FÉRIAS DO PASSADO
Virgínia Círchia Pinto
 

19/01/2005

Limpando minha caixa de entrada, encontrei entre os e-mails do ano passado um especial de meu irmão mais novo, Junior. Ganhei dele de presente, minha crônica de férias, pois me reportei aos melhores anos de nossas vidas e de nossas férias inesquecíveis. Era um tempo de muita coisa proibida, mas tínhamos o fogo da juventude e uma incomparável alegria de viver. Passear por aqueles dias do passado foi um presente, meu irmão!

Carta recebida em 22/08/2004

Oi Vivi,

Estou, nesse exato momento, num gostoso e ocioso "churrasquinho de apartamento". Aqueles de grelha elétrica, que nos fazem matar a saudade do tempo em que morávamos em casas amplas, com quintal e espaço para essas coisas.

Resolvi sair um pouco do vinho, que tanto aprecio e decidi tomar uma cerveja, num copo com a borda suja de limão e sal. Isso me transportou para os tempos de Itanhaém. Como você gostava de uma latinha de cerveja desse jeito!

Lembrei-me daquela turma de amigos e de como nossa casa era o centro da bagunça de todos eles. Principalmente, quando eram férias, papai e mamãe não estavam em casa, ficando a "Santa Inês" (nossa babá desde o berço), encarregada de tomar conta de nós. A frente da casa parecia um estacionamento. Era carros e mais carros, sem falar nas pranchas de surf, também estacionadas no gramado do jardim.

O João namorava a Valéria, tinha acabado de voltar dos EUA. Como ele era seguro de si, todo moderno e como nosso irmão mudou, ficou sério, envolvido em negócios. Quem diria? Quem o visse de cabelos oxigenados, metido numa turma de cabeludos surfistas, nunca imaginaria que ele pudesse "tomar jeito". Acho que ninguém imaginava, naquela época, o que iríamos fazer da vida, cada um de nós.

Você, certamente, nem pensava em ser dentista, casar e ter filhos. Aliás, seu casamento foi muito rápido, enquanto o
João vivia namorando "sério", sempre parecendo que ele: "com aquela iria se casar". Você nunca namorava ninguém. Sempre amiga de todos, na turma de Itanhaém, mas nada de namoros. Pelo menos, é o que eu via quando garoto. De uma hora para outra, a faculdade te fez mudar. Passou pouco tempo, lá em Araçatuba, e já voltou namorando "pra valer".

A gente, na família, acaba se lembrando mais do Sítio de São Miguel Arcanjo, mas acho que o tempo da praia foi o mais
gostoso de nossas vidas. E como nós tivemos uma vida boa naquela época. Sinto não poder dar a meus filhos uma coisa tão gostosa como tivemos de nossos pais. Ir para lá tinha todo um ritual. Todo mundo no Opala: papai, mamãe, nós quatro, Inês e ainda o cachorro, que ia deitado nos nossos pés. Como cabia todo mundo naquele carro? E como era uma incógnita: será que o Banzé (nosso cachorro) vomitaria, daquela vez? Lembro ainda os churrascos; o Rogério, que comeu quatro pratos de feijão bolinha; do papai de bermuda, andando naquela bicicleta enorme; das incontáveis "broncas" e recomendações da mamãe; dos parentes, que sempre apareciam para ficar; da sua amiga Akemi, que ficou nas primeiras fotos da casa, mas que, depois, sumiu por completo (foi morar no Japão); das primeiras "aulas" de direção detodos nós; do disco da Maria Bethânia, tocando, sem parar, na vitrola (tocou tanto que, um dia, acabei por escondê-lo); do Silvio, Marcelo, Ricardo e Rogério; do fusquinha, 66 da mamãe; do Bugue da Valéria, que era o máximo; da motos 125, de fumar escondido; dos porres do João, que depois passava mal e vinha bater na sua janela pedindo socorro com medo de morrer; do "tchaco", que acertei do nariz da tia Jamile; da tamancada, que mamãe acertou no meu nariz depois de alguma peraltice minha.

Que saudades, Vivi. Como aquilo tudo era maravilhoso.

Um beijo,
Júnior.

 

Junior,

Aquilo tudo ainda é maravilhoso, por que vive em nossas lembranças e faz parte de nossa história.

Que o sabor daqueles momentos sejam eternos em nossas vidas e nos façam um pouco mais felizes!

Com carinho,
Virginia

 
 

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