QUASE
Ana Terra
 

Seu rosto eu conheço, mas só em sonho quase te vi. Algo tão forte e quase real que me fez sentir saudade do abraço e beijo que quase trocamos.

Das nossas conversas quase densas nos finais de semana.

Saudade daquela tarde de quase inverno que assistimos a um quase filme de imagens, luzes e sombras, como sua alma.

Saudade do cheiro da chuva que você quase se permitiu molhar.

Da nossa tentativa de quase ignorar o mundo e sorrir para a vida.

De repente, no quarto escuro, um rosto que não conheço. Sonhava novamente. Ao despertar, a saudade quase continua. Em seguida, a ausência. Acendi a luz. Nada adiantou. Tanto faz o branco como o negro. A falta não cresceu e nem diminuiu. Optei por ficar quase estática.

Nossa vontade de reencontro é quase intensa. E nem sabemos direito quem somos.

Conheço sua intensidade. Quase senti todo o seu fogo, mas segurei apenas um graveto. Seus olhos me pediram. Seus lábios quase falaram. Eu quase me atrevi.

Uma quase dúvida me impediu. Sinto você esfumaçada. Como um dia nublado.

Preciso de uma paisagem quase completa. Você guarda mistérios quase insondáveis. Eu quase paro e disparo meu medo. Minhas emoções explodem por quase todos os meus poros.

O suor quase escorre pelas minhas costas nuas. Nossos sexos quase se encontram numa quase fusão. Nossas águas se transformam num quase perfume.

É quase sonho. É quase esperança. É quase paixão. É quase nada.

Sei que seus cílios brilham quando chora.

Sei que encontra conforto nos meus seios.

Sei quando está em êxtase ou desespero.

Sei onde encontrar seu calor quando o frio me ataca a alma.

Sei onde está o alívio para a dor da existência.

Sei. Ou quase sei. Não sei.

 
 

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