ALLEGRO MISANTROPO IX
Sérgio Galli

 

(ao som do Réquiem de Verdi)

1979. Anistia. Aldir Blanc, João Bosco e Elis Regina cantavam “...a volta do irmão do Henfil..” E muitos retornaram à pátria amada. A ditadura militar encurralada e envergonhada começava a dar sinais de desgaste. Alguns anos antes, o assassinato de Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho provocaram um certo abalo e os generais Ernesto Geisel e Golbey do Couto e Silva começaram a preparar uma saída honrosa. Acabaram com o bipartidarismo. Tiraram o PTB do Brizola. Junto com a CNBB inventaram o PT e o Lula.... Dez anos depois, 1989, o Muro de Berlim desaba. Dez anos depois, Collor foi eleito presidente. O primeiro depois do fim da ditadura. Fim? 25 anos depois da anistia personagens cadavéricos e insepultos continuam – leves, soltos e faceiros – a reinar, publicar artigos em jornais de grande circulação, ditar regras, choramingar lágrimas de crocodilo e muito mais. Na verdade, eles jamais deixaram o poder.Vejamos. O primeiro presidente pós-ditadura, José Sarney (que, por acaso, continuar a mandar e fruir o doce sabor do poder). Depois, Collor... Itamar... FHC (com vários ministros que foram arautos da ditadura, loquazes freqüentadores de quartéis), sem falar no ACM, capitão hereditário, no poder desde sempre. E, finalmente, o grande lance da ditadura, golpe de mestre, o Lula. E, para gáudio dos militares, tudo o a ditadura pregava, admirava, lutava (seus princípios) estão aí, sob a luz dos refletores. Bush presidente. Berlusconi, primeiro-ministro. Ruiu o muro de Berlim e a União Soviética. O mercado é o deus-ex-machina. A ditadura econômica (mais do que isso, monetária) triunfa. A ditadura dos números, das estatísticas, impera. Repito, Lula presidente. Querem glória maior? Quando deram o golpe em 1964 não podiam imaginar que imenso sucesso teriam. Claro, no meio do caminho tiveram alguns percalços, alguns cadáveres, alguns desaparecidos, enfim, são meros detalhes. Ninguém é perfeito. E como diz o presidente”estamos num mar de rosas”, o ministro da fazenda que diz “estou muito feliz” (diria eu que os acionistas do citibank estão ainda mais felizes). Venceu a ideologia militarista, mercantilista, monetarista. Os germes que geraram os fascismo e o nazismo estão mais vivos e férteis do que nunca.
Não há como esquecer. Imperdoável.
Bom natal! Feliz ano velho!

Sugestão de leitura: “Cadeia de comando”, Seymour M. Hersh, Ediouro.


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