CONTORNO
Márcia Ribeiro

Na vã tentativa de viver, sendo obediente ao coração,
Deixou-se cair na agonia de fingir que não amava
Rogava aos céus e aos santos suplicava com devoção
Que dias e noites findassem a angustia que, do semblante, minava

Trazia nos olhos a poesia e, assim, adormecia na mais doce ilusão
De que um dia veria, no horizonte, o sussurrar de uma nova era
Para isso, resignou-se com a própria sorte, violando a emoção
Talvez, aí sim, encontrasse a sutileza de uma breve espera

Tão longe! Queria estar neste momento no velho casarão
Entre todas as conchas perdidas, caminhando à beira mar
Pressentindo a corrida das estrelas em turbilhão
Cavando, com mãos impiedosas, o caminho de voltar

E de longe avistou, reluzente e bravo, o antigo Brasão
Abriu a palavra guardada em segredo na velha “cantia”
Sentiu, sob os pés, a quentura da lava de um vulcão
Pois em breve teria a alma livre e, da vida, anistia


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