O CANTO DE UM GUERREIRO
Kátia Rodrigues
Desistir não é possível, senão por princípios,
pelo que se carrega dentro.
Mas, agora aflora um enorme cansaço,
por toda caminhada entrecortada de prantos, de palavras
mal ditas, guardadas.
Pode, num segundo ínfimo, a vida deixar
de ser o que foi um dia.
Transformar-se, desistindo dos teus passos.
Perdendo-te, deixando-te ao relento.
Sob o céu escuro vem o manto da noite
e abraça-me, enquanto a ti aprisiona. Dispo-me e liberto-te.
Segues caminhando.
Querer-te livre é sonho, projeto,
desejo.
Teus passos firmes escondem teus medos,
o rosto duro trai nos olhos a doçura que conheço.
Tornaste estranhos a ti os sentimentos. Não
trazes nenhum que te proteja e guarde. Frágil, segues os sonhos que fizeram
parte de quem foste um dia.
Caminhas cansado, eu sei. E surges finalmente diante de mim:
- Percorri caminhos, girei mundo,
conheci estradas e eis me de volta, diante da porta que sempre esteve aqui,
escondida pelos véus do mundo.
Abro-a, atravesso e aqui descanso.
No silêncio desse novo tempo, calo meu grito, dispo-me e ignorando-te,
me perco.
Alforria-me liberta-me, anistia-me, porque assim te perdôo.
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