NOTÍCIA NA TEVÊ
Vic Laurel

– Na tevê, mamãe, eu vi na tevê.

Ela estava falando da notícia que passou no jornal da noite. Não era hora de uma menina de seis anos, por mais esperta que ela fosse – e, acredite, ela era – estar acordada, menos ainda vendo na televisão notícias tão violentas como as de todo dia. Mas a mãe, estarrecida com o que acabara de ouvir, sequer a repreendeu.

– A menina, mamãe, tinha, hum, dez anos eu acho. Só aparecia a boca dela, com um monte de dentes tortos, ela devia ser bem pobre e não tinha dinheiro pra cuidar dos dentes. – A mãe assentiu com a cabeça, ela continuou: – Ela disse que o moço chamou ela pra dar um passeio no caminhão e comprou revistas e balas e disse que ia ajudar ela. Acho que era com dinheiro, porque ela era pobrinha, lembra? Só que ela não sabia que aquilo era uma armadilha. Na tevê que disse que era uma armadilha, porque o moço só queria tru... estru... Ele queria fazer não sei o quê, tinha um nome esquisito. O que que era, mãe?

– Nada, não, filha. É que o moço queria maltratar a menina.

– E por que ele queria maltratar ela?

– Porque tem gente que é má, mamãe já te explicou. Por isso que eu e o papai sempre pedimos pra você nunca falar com estranhos.

– Eu sei, eu nunca falo. Era mentira dele, mãe! O moço só queria fazer esse troço aí, queria maltratar a menina. Aí mostrou o moço sendo preso, ele já era velhinho, parecia até o vovô, com o cabelo branco e com a barriga grandona... Quando ele entrou no carro da polícia, a mãe da menina tava perto e começou a gritar, não dava pra ouvir direito, porque ela tava longe, mas uma hora eu ouvi ela dizer que ia matar ele. Mãe, ela vai matar o moço?

– Não vai, não vai... É que às vezes gente grande fica com muita raiva quando vê pessoas más, principalmente quando essas pessoas fazem alguma coisa com os nossos filhos, sabe?

– Uhum.

– Você é uma menina muito espertinha, sabia?

– Uhum, eu sabia. – Depois, dona de si: – Eu nunca vou deixar ninguém me maltratar, mamãe, nunca. Eu prometo, tá?

A mãe apenas sorriu. Um sorriso amarelo de quem sabe que não precisa temer as crianças, mas os moços maus e suas armadilhas.

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