SER LIBRIANO
Paulo Henrique Pampolin

Ser libriano realmente não é fácil. As armadilhas são constantes. Dá impressão que a vida sabe de nosso maior ponto fraco, a indecisão, e está sempre nos apresentando as coisas aos pares: dois amores, duas propostas de trabalho, duas festas, dois caminhos, etc.

É um terror! A decisão mais simples se transforma em um mostro de oito cabeças.

Quando chego em uma bifurcação de um lugar desconhecido, simplesmente viro o carro e volto. Decidir? Jamais!

Entro em uma loja para comprar uma bela camisa azul que vejo na vitrine, logo vem a simpática vendedora me mostrar que a mesma camisa existe na versão preta. Pronto, é o suficiente para ela perder a venda. Volto para casa sem nenhuma. Está rindo? É muito sério. Pergunte a qualquer libriano que conheça.

A solução está sempre em empurrar com a barriga. Jamais decidir. Claro que a vida nos cobra soluções e face a indecisão, sempre caimos na velha armadilha de que já que não se decide, a vida o faz por você, mas nem sempre pelo melhor caminho.

Tem sido assim desde sempre. Já tentei de tudo, psicóloga, mandinga, simpatia, promessa, nada resolveu.

Um dia, chegou ao meu ouvido a informação de que a solução estava em um ritual que jamais falhou. Deveria ir a Fernando de Noronha, alugar um barco, seguir mar adentro e quando visse os golfinhos, deveria mergulhar com eles. Assim, segundo consta, os golfinhos com seu apuradíssimo senso de direção, me passariam a energia que não tenho para minhas decisões. Bastava mergulhar e seguí-los.

Chegando ao paraíso, fui alugar o barco. Como disse, a vida apresenta-nos tudo aos pares.

- O senhor prefere esse barco com cobertura ou esse outro sem? – perguntou-me o pescador.

Parecia uma brincadeira, mas era real. Claro que não decidi e ele acabou fazendo isso por mim.

Chegando a hora de mergulhar, me mostrou as roupas de mergulho:

- Quer a preta ou a azul?

Fui incapaz de responder, mergulhei com minha sunga.

Já estava quase cumprindo o ritual, estava muito próximo de me ver livre dessa maldição, só faltava seguir os golfinhos.

Sob a água, os vi e fui atrás, quando de repente o cardume se espalhou indo cada um para uma direção.

Não preciso nem dizer que subi para o barco. Era impossível dicidir qual golfinho seguir.

 

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