ARMADILLO
Francisco Pascoal Pinto de
Magalhães
cão-sarnento-farejador aquele dia resfriado cabeça baixa orelhas murchas rabo torto espantando moscas. restava eu checar os fojos armados ao longo do leito seco do riacho. um preá, um teiú, um mocó... qualquer coisa era de serventia; que a fome do vivente não escolhe cardápio.
cão-sarnento-farejador aquele dia andava assim atarantado guiado pelo instinto caçador atras de um calango esverdeado desarmou os fojos todos.
de raiva deu vontade de dar uma carga de chumbo no bicho. mas chumbo anda caro; e pólvora então... para não acostumar mal dei uma surra no bicho que sumiu por tres dias.
inda catei um tatu pequeno assim aquele
dia. mas não matei não. vendi prum gringo de fala engringolada
que apareceu na venda do Jacob. armadillo? perguntou o gringo mostrando todos
os dentes. armadilha, respondi. o gringo pagou com uma nota amarrotada escrita
em ingles que a princípio relutei em aceitar mas o dono da venda me
chamou de besta e disse que aquilo era dólar e valia mais que dez notas
de dez cruzeiros. deu pra comprar um jacá de rapadura, umas quartas
de farinha e um agrado pra Quitéria que andava de mal comigo por causa
do sumiço do cão-sarnento-farejador. as coisa estão se
acertando. o cão até já abana o rabo pra mim...
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