VERSÕES
Vic Laurel

 

– Meu bem, você nem imagina o que aconteceu...

Ela não imaginava mesmo, quando viu o marido chegar em casa àquela hora da noite, quase madrugada, arranhões pelo pescoço e até pelo rosto, a camisa social amassada e imunda, quase sem conseguir falar pelo cansaço evidente. Ele explicou, entre providenciais pausas para recuperar o fôlego:

– Quando eu saí do escritório, indo pro carro, louco pra chegar em casa, o dia todo de trabalho... Só queria tomar um banho quente, relaxar, te dar um beijo... Enfim, tava indo pro carro, de repente senti um peso no ombro e, pá, caí no chão! – Viu o olhar atento da esposa, continuou: – Alguma coisa me puxava no chão, e eu só tentando entender o que tava acontecendo. Aí eu vi que tinha um cara me puxando, puxando meu laptop, queria roubar a droga do laptop. E você sabe que eu não sou nada sem ele... Então eu comecei a puxar de volta, ficou parecendo briga de menino, dizendo larga-não-largo, você precisava ver. Eu sei que não devia ter feito isso, vai que o cara tinha uma arma, uma faca... O pior era a alça da mala arranhando meu ombro, meu pescoço... Eu tô sangrando? Não? Podia jurar... Bom, a gente ficou naquela, ele puxando, eu puxando pro outro lado. Eu tentei dar uma cotovelada, mas ele tava longe, dei com o braço na calçada, olha só o tamanho do machucado! Aí eu comecei a gritar por socorro. Te juro, ele começou a gritar também! E até que ele foi espero, porque se aparecesse alguém, ali no escuro, os dois se engalfinhando no chão, não ia saber quem era o ladrão. Nisso apareceu alguém, nem sei de onde, berrando qualquer coisa. Acho que era reflexo de ladrão, porque quando ele ouviu o grito, levantou e saiu correndo. Ele foi burro, porque eu tava tão arrebentado que qualquer um acreditaria que fosse eu o ladrão. O tal senhor que gritou chegou perto, perguntou se eu queria entrar pra lavar os machucados, tomar uma água. Eu agradeci e disse que não, só queria ir pra casa. Ele perguntou se eu não ia dar queixa, respondi que não, não iam pegar o cara mesmo e, se pegasse, logo ele tava solto. Então eu comecei a juntar as coisas, o senhor me ajudou, devo ter perdido uns troços na rua, uns cabos, mas nem importa também. Pelo menos eu cheguei em casa.

Ela pegou a mala, tomando cuidado para não machucar o marido.

– Vou preparar um banho pra você, depois te faço um lanche - e beijou sua testa.

Na semana seguinte, no almoço, ele me contou a história:

– A versão verdadeira, você quer saber, né? Bom, na verdade eu tava me pegando com a Adriana, sabe, aquela morena da Contabilidade? Não sei o que houve, ela meio que exagerou, acabou me arranhando todo. Eu já tava desesperado, porque ia chegar em casa com aquelas marcas e não ia dar certo. Tava tão preocupado que nem vi que tinha um meio fio e... Bom, a coisa foi feia: minha camisa rasgou, voou lama pra todo lado, machuquei o cotovelo na calçada... Foi Deus, cara, foi Deus.



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