QUERIA SER RITA
Ro Druhens


No meio da escada a Rita sentiu que alguma coisa melada lhe escorria entre as pernas. Há mais de dez anos não menstruava. E, mesmo assim. E, no entanto. Parou, encostada à parede. E alguma coisa, melada, lhe escorria entre as pernas. Sentiu que as pernas se abriam, alheias a todos os pudores. Lentamente, num movimento imperceptível como se abre uma flor.

No alto da escada o Francisco sentiu que alguma coisa dura lhe crescia entre as pernas. Há mais de dez anos não gozava.E, no entanto. E, mesmo assim. Parou, encostado à parede. E alguma coisa, dura, lhe crescia entre as pernas. Sentiu que os braços se abriam, alheios a todos os pudores. Bruscamente, num moviemtnto ágil como se abrem as asas dos falcões.

Às pernas, meladas e abertas, foi foi fácil atravessar o espaço de todos os degraus.
Aos braços, rijos e abertos, foi difícil negar o espaço de todos os abraços.

E, no meio da escada, o encontro.

O bico do falcão sugou o pólen como se tivesse a sede de todas as abelhas. As asas do falcão cobriram a flor e a fizeram exalar perfumes de exóticas essências. E, desafiando o improvável, o falcão pousou na fragilidade da flor como se fosse um beija-flor. E a flor o recebeu como se fosse um beijo do orvalho...

Foi assim, mas não foi bem assim.

Rita, a faxineira, já sentia tesão por Francisco, o porteiro, desde há muito tempo. Ela vinha da feira e o encontrou na escada de serviço. E foderam, como fodem os bichos e os apaixonados.

E disseram com seus corpos negros todos os versos brancos que a minha alma cinza jamais viveu.

 

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