RECADO PARA ROGÉRIO
Kátia Rodrigues
As relações deviam começar com um juramento:
juro dizer a verdade, nada mais que a verdade, e na ausência de
saber o que é verdadeiro, colocar as mãos sobre o peito, e olhando-te
nos olhos, dizer o que sinto: eu te amo.
Foi com um e-mail que começamos a nossa estória. Pela net as palavras correram soltas e mais do que descobertos, encontramos a nós mesmos, o que precisava ser jogado fora e deixado para trás. Então agora, Meu Amor real, que a virtualidade não roubou de mim, sua presença me transcende, e preciso ter uma conversa séria.
Uma conversa tão séria que terá por testemunha mais do que os céus, mas todos os cantos virtuais onde nossas palavras possam chegar. Lembra que assinamos um contrato, onde a verdade precisava ser cumprida e as sensações divididas? Cumprimos toda essa primeira parte. Desde sempre fomos simplesmente nós mesmos, inteiros e verdadeiros, dispostos a nos mostrarmos.
Mas teve também distâncias, ausências, silêncios, e é aí que eu quero chegar. Aproveitando o que sobrou de uma alma que advoga, mas não astutamente, quero colocar um adendo. Adendo esse que é capaz de tornar-se o todo, fazendo com o que o principal se torne parte e, só continue por ser imprescindível.
Este é um convite, um compromisso com a presença, real, em carne e osso, olhos nos olhos, sob pena de estarmos para sempre mortos e enterrados, e vermos nossas esperanças de sermos, estraçalhada. É uma intimação solene para um compromisso de vida. É o juramento de um casamento de dois corpos, de duas almas, que de mãos entrelaçadas se comprometam a romper toda e qualquer distância, vencer qualquer quilometragem, e não permanecerem mais do que 12 horas sequer, sem que os olhos se avistem, as mãos se toquem, as bocas se rocem, por mais que nos apronte o mundo e a vida aconteça.
Nada justifica uma distância maior do que essas longas e insuportáveis horas distantes, e que multiplicadas por todos os momentos em que nos foi permitido estar juntos, parece nada! Então se sinta convidado a participar de um banquete, onde sobre uma longa mesa estão as nossas vidas, a minha e a sua, com seus descaminhos, curvas e atropelos. Venha disposto a acertos, mas todo e qualquer fracasso, decepção, frustração, nos será permitida, se não nos sentirmos sozinhos.
Nosso adendo se torna, desde já, de aplicação imediata, bastando para vigorar que o coração dispare, como na primeira vez (nós soubemos que a vida mudaria); que de posse da chave você simplesmente abra a porta e venha para a casa que é sua.
Porque não há nem muros, nem barreiras, nem nada intransponível senão, a nossa pretensão de saber controlar o tempo, de pensar que existe hora certa, de achar que falta alguma coisa e, de sentirmos medo. Diante desses nossos três enganos, sugiro que tenhamos coragem e de uma vez só possamos dar um passo único e último para viver a vida que se apresenta agora como um final de feira, onde existe a pressa de arrumar.
Peço que me permita cuidar de você, ser tudo que já fomos e tentar ser o que você nem sonhou. Mas não se iluda que continuo imperfeita, mas, que posso fazer se você é uma certeza? Faça-me dormir com seus carinhos o sono que eu não sei mais sonhar, e acordada viver a vida incerta e imprevisível que se apresenta, sem sentir medo.
Simplesmente volte para a minha vida, seja
meu homem, ocupe seu espaço que sempre esteve vazio, e me traga a alegria
de volta. Desde sempre você teve a chave, descobriu os segredos e foi
o único capaz de iluminar. Vem. Exatamente como está agora. Espere
apenas o tempo de desligar o micro, pegar um casaco, pois você pode sentir
frio, e a estrada é longa. Mas vem logo, não fique parado, estarrecido,
incapaz de acreditar nas palavras, no que está vendo diante de si. Vem,
diz o que eu sempre soube, mesmo quando você não mais falou. Fala.
Ou simplesmente me chama, abraça, deita a cabeça no meu ombro,
porque com todos os nossos desacertos, eu sempre fui sua e nunca deixei de te
amar.
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