OS PREMIADOS
Argento

 

Essa aconteceu numa grande companhia de aviação do Brasil. Existia nessa empresa uma cerimônia de iniciação que se destinava a mostrar ao novo funcionário a rotina de funcionamento da mesma e era também um prêmio ao novato.

Quatro novos empregados estavam em sua primeira semana de trabalho. Eram três rapazes e uma bonita moça. Quando foram informados por seu gerente da grande novidade. Eles teriam direito a uma viagem aérea dentro do país, o chefe então mostrou aos mesmos as suas opções.

Um deles chegou a dizer que aceitava qualquer lugar, desde que não fosse de clima muito frio, pois isso causaria a ele o transtorno de ter que viajar até seu sítio no interior do estado que ficava a cem quilômetros de distância da capital para buscar suas roupas de inverno.

No dia seguinte, para sua surpresa, o "friorento" foi informado pelo "querido chefinho" de que, como ele não havia escolhido previamente o local, sobrou ao dito cujo uma viagem para Porto Alegre, e de que a data da viagem dos quatro seria em Julho (inverno no sul do país). No início tentou relutar, mas como era uma viagem prêmio, acabou por desistir.

Todos fizeram seus pedidos conforme combinado. Passaram por toda a firma, desde o preenchimento da solicitação da passagem (recursos humanos), contabilidade, reserva do espaço positivo, etc...

Enfim, como estava chegando perto da data tão esperada da partida dos vôos, os "premiados" resolveram preparar suas malas.

Chegou então o tão esperado dia, cada um recebeu uma carta confidencial, além é claro dos bilhetes aéreos. Estavam no setor de embarque, por imposição da chefia em trajes à rigor (a dama estava toda embecada com um salto de oito centímetros que dificultava em muito a sua locomoção). Começaram então a se vangloriar do benefício da empresa, inclusive o "coitado" que já havia curtido um dobrado para preparar sua gigantesca mala de roupas de inverno, quando resolveram prosseguir com o embarque. Qual não fora a surpresa da turma, quando ao entregar seus bilhetes, o distraído funcionário do "check in" soltou uma frase que os deixou bastante preocupados.

- Estranho, acho que esses são bilhetes de teste! - Balbuciou o moço do balcão.

- Mas não é possível! O nosso gerente os entregou pessoalmente! - Bradou um dos novatos.

- Deixa eu verificar com o meu chefe, aguardem um momento por favor. - Disse o empregado do aeroporto.

Ao retornar, pediu educadamente desculpa aos quatro, e disse que ele havia cometido um equívoco, pedindo-lhes que entregassem suas cartas confidenciais, por sugestão de sua chefia. Eles acharam esquisita aquela repentina mudança, pegaram novamente os tickets e resolveram então discutir primeiro entre eles o mal fadado assunto.

Sentaram nos bancos do aeroporto e após alguns minutos de conversa cheia de desconfiança, resolveram então abrir os documentos confidenciais. Para sua desagradável surpresa, as cartas continham informações a respeito do TROTE que eles haviam recebido, inclusive com as assinaturas de todos os participantes da "brincadeira". Possessos da vida, os quatro, resolveram que não iriam trabalhar mais naquela semana, essa seria a sua vingança, combinaram que iriam fingir que conseguiram embarcar.

Como o dia se passou e os empregados não retornaram ao trabalho, seu gerente ficou muito preocupado. Na tarde seguinte, como o dia já estava por terminar e nada deles aparecerem, o executivo tentou entrar em contado com os "lesados" e como não obteve sucesso, resolveu vasculhar as listas de vôos, telefonou aos referidos aeroportos, não obtendo obstante nenhuma resposta positiva, ficou então o "brincalhão" com uma baita cara de tacho.

Entrou então em contato com alguns dos principais autores da farsa, que tentaram lhe ajudar. Apesar de todo esforço despendido, a ajuda deles foi em vão. Foi um desespero geral na empresa. Conta-se que um dos enganados ficou três dias sem trabalhar, os outros dois ficaram uma semana e a bela senhorita compareceu ao trabalho apenas para pedir as suas contas. Um dos rapazes viu a moçoila depois de um tempo, toda vestida de Ripe numa praça da metrópole.

É meus amigos, como dizia o Zeca Pagodinho: "Brincadeira tem hora!"

 

fale com o autor