ARTE DE APRENDER
Virgínia Pinto
Fomos felizes enquanto embriaguei nossas almas.
Ele me despertava um amor sem tamanho. Homem
maduro, seguro
de si, carinhoso, terno, presente, elegante. me trazia a sensação
de bem-estar seguida de quero mais. Penetrava fundo em minha alma, arremessando-me
às nuvens. Ele era tudo o que tinha sonhado na vida, sem planos, sem
lenço e sem
documento.
Eu o queria por perto e ele ali estava , sempre!
Alma. Eu desejava percorrer sua alma e recitava, em pensamento, todas as canções de amor que um dia ouvi, de Roberto a Barbra Streisand. Apaixonada e cega, acreditava que estava, enfim, conseguindo ser feliz. Nas madrugadas, depois do amor, conversávamos infinitamente, e só dormíamos quando nossos olhos cansados se fechavam e no silêncio do encontro desejávamos ao outro, o sono dos justos. Éramos um no amor, na dor, na necessidade, no escuro, na luz e jamais imaginei conhecer as sombras. Era tão ingênua em querer caminhar suavemente por sua alma que dei a ele o poder de me castigar com sua ausência, desprezo e mentiras. Pleno de minha fidelidade e amor sem fim, me deixava aos poucos, disfarçadamente, amiúde, um pouco a cada dia.
Era pecado querer e amar assim? Dizia a mim mesma que nada importava, pois no fim, seria entre mim e Deus, nunca entre mim e o homem. Estava em pleno estado de graça e isso bastava. Bastava?
Ele me torturava, sem perceber, dizendo sempre que éramos livres. Que o melhor da vida era vivermos o hoje, pois o amanhã não nos pertencia. Estas palavras chicoteavam minha alma. Ouvi isto pela última vez, no momento da despedida. Imaginava que tudo o que ele fazia era para dissimular o medo que tinha de me amar. Divagava entre a razão e a emoção. Como aceitar esta teoria se a presença dele era nitroglicerina pura e sua ausência me consumia? Eu o amava com ternura, como nunca havia conseguido, o seguia com prazer e desejo como não havia sentido e o perdia pelos dedos feito areia em vendaval, como jamais tinha perdido.
Disfarcei citando teorias da vida, aquela bandida, que ronda os corações perdidos, quando tudo está rompido e você teima em achar que um dia ele vai entender, vai enxergar, vai se arrepender e vai te procurar...
Eu pude ver a sua alma e clamei a Deus que ele visse a minha!
Supliquei paixão. Só encontrei razão.
Desalmado ele me oferecia companhia, ausência,
cumplicidade, carência, amor, ódio, desejo, desprezo, emoção,
razão e deixava minha boca seca de dúvida, sem nenhuma coragem
de dizer NÃO. Imune, de tanto ele recitar os estragos que a alma faz
ao amor, um dia simplesmente desisti. Tolice. Queria nele, apenas enxergar o
que estava em mim...
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