CRÔNICA INDIGNADA DE UM ALLEGRO MISANTROPO VII
Sérgio Galli

 

(ao som A love supreme, de John Coltrane)

Depois das crianças mortas em Beslan Depois das crianças mortas na áfrica subsaariana Depois do silêncio Depois da página em branco Depois da busca do tempo perdido Depois daquele inverno da desesperança Depois das chuvas de verão. Depois das flores da primavera Depois da ventania outonal Depois do fim da história Depois do apocalipse agora Depois do horizonte perdido Depois das ilusões perdidas Depois da comédia humana Depois da escalada à montanha mágica Depois do doutor fausto Depois da descida ao inferno de dante Depois do encontro marcado com os demônios Depois do sonho de uma noite de verão Depois da sagração da primavera Depois da longa marcha para o fim dos tempos Depois que apagou-se a luz no fim do túnel Depois do “apagão” do iluminismo Depois do século das luzes Depois das luzes da cidade Depois da insustentável leveza de ser/ter Depois do princípio da incerteza Depois da relatividade Depois da partícula subatômica Depois do ácido desoxirribonucléico Depois da bomba de hiroshima Depois do pré-cambriano Depois das escrita cuneiforme Depois da extinção do dodô Depois das viagens de gulliver Depois de robinson crusoé Depois da viagem ao centro da terra Depois da odisséia Depois da odisséia no espaço Depois do que sobrou do paraíso Depois da noite de são Bartolomeu Depois da longa noite dos cristais Depois da comuna de paris Depois deo Concílio de Trento Depois do Tratado de Versailes Depois da Santa Inquisição Depois de Waterloo Depois da Primavera de Praga Depois de guernica Depois de auschwitz Depois de may lay Depois da batalha de stalingrado Depois do cão andaluz Depois do discreto charme da burguesia Depois da classe operária ir ao paraíso Depois dos pequenos burgueses Depois que Johnny foi à guerra Depois da bela da tarde Depois da investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita Depois do último tango em Paris Depois do último dos moicanos Depois de ver lucy no céu com os diamantes Depois da noite dos desesperados Depois da missa de j. s. bach. Depois dos últimos quartetos de cordas de l. van beethoven Depois do réquiem alemão de brahms Depois da nona sinfonia de mahler Depois do quinteto para cordas de schubert Depois dos últimos quartetos de cordas de bela bartok Depois do quarteto para o fim dos tempos de messiaen Depois da sinfonia número sete (leningrado) de schostacovich Depois de miles & coltrane Depois das memórias póstumas de brás cubas Depois das vidas secas Depois de nada de novo no front Depois da sociedade dos poetas mortos Depois da pedra no meio do caminho Depois da viagem do capitão tornado Depois do crepúsculo dos deuses Depois de mil anos de felicidade Depois do fim do milênio Depois da era das revoluções Depois da era do capital Depois da era dos extremos Depois da era monetária Depois do Kalyuga Depois da civilização fenícia Depois da civilização suméria Depois da civilização egípcia Depois da civilização grega Depois da civilização romana Depois da civilização bárbara Depois da civilização feudal Depois da civilização iluminista Depois da civilização do automóvel Depois da sociedade do espetáculo Depois da banalização do mal Depois da vulgarização do amor Depois do desamor Depois da desrazão Depois do fim da ética dos princípios Depois do fim da arte Depois da extinção do homo sapiens demens... besouros formigas piolhos pulgas baratas cupins borboletas protozoários


Sugestão de leitura: “A sociedade do espetáculo”, de Guy Debord e “Os demônios”, de Fiodor Dostoievski.

 

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