NOVE MESES
Edison Veiga Junior

Depois do amor, nove meses, era um gemido grande e um berreiro maior ainda anunciando novo habitante no mundo, nova criatura pra respirar poluição, nova criança pra sofrer tudo o que a vida guarda.

Aí era aquele sorrisinho frouxo, ambiente asséptico, médico com cara de idiota olhando pras mãos tão acostumadas a bater em bundinha de neném. Cena 12.842/2004. Corta VT e o cordão umbilical junto. Pode levar.

Quem vê cara não vê coração, vê joelho e joelho amassado ainda por cima. Vermelho. Os olhinhos fechados não permitem nada de cutucar, nem um olhar de esguelha. Agulha já é vacina ou ainda é muito cedo pra injetar corpos estranhos dentro do estranho corpo cor de cor? Absurdo.

Depois do amor vem sempre aquela dor pontiaguda, aquele sentimento punk em cima da cabeça. O depois do amor não existe, se o amor for mesmo amor. A não ser que não haja sinal nem senha, que não se veja sanha nem sonho, que não se tenha amanhã. O amanhã não tem tamanho se há amor.

Hoje é o amanhã. Acordei chovendo pra rimar com as lágrimas do meu âmago. Eu te âmago. Depois do amor, nove meses, era um gemido grande e um estranho berreiro ainda anunciando tudo: aquilo vivo que há entre o nascer e o morrer. Um vampiro que escorre a espreita e uma montanha que sacode na esperança.

Agora é só uma dor pontiaguda que nem parece sombra de amor. Agora é só um suspiro, um jeito cibernético de olhar pra tela vazia, uma janela entreaberta. Agora é só saudade.
Eu só queria era o esperma escorrendo entre suas pernas.

 

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