SINTOMA
DE SAUDADE
Ana Terra
Há pouco estava no quintal escuro olhando o céu. Início de noite claro e estrelado.
A atrevida Lua Crescente brilha intensamente. Talvez pense que é Lua Cheia
Com beijos, pensei em acordá-lo. Tomar suas mãos e mostrar o céu. Mas você não está mais aqui.
Lembrei-me daquela Lua Cheia temperamental. Durante uma semana planejamos vê-la nascer no mar. A chuva tentou acabar com nosso sonho. Mas ela apareceu. Por uns minutos apenas.
Uma presença profética. Senti que aquele breve momento seria como nosso encanto. Tivemos momentos intensos e curtos como a magia da Lua. Um vento forte limpou nossa alma. O mar perfumou a noite. O barulho das ondas traduziu o que não sabíamos dizer. Como a Lua é sábia!
Não precisamos dizer nada. Tudo aconteceu muito rápido como aquela estrela cadente de cauda verde que riscou o céu diante de nossos olhos. Olhamo-nos surpresos e perguntamos: você viu o mesmo que eu? A dupla de arco- íris nas montanhas. Os arcos coloridos inteiros e sem mistérios que desapareceram em segundos. Nunca tínhamos visto aquelas cores se apresentarem assim!
Tudo passou. Ficou um sentimento novo e sem nome dentro de mim. Parece saudade, mas não é. Não dói. É intenso, mas não desesperador. É terno. É sensual. É tátil. É perfumado. As lembranças me deixam em estado de graça.
Preciso inventar um nome. Não seria
um sintoma de saudade?
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