CRISE DE CRISES
Vic Laurel


Crises do petróleo, crises de identidade, crises nervosas, crises existenciais, crises econômicas, crises financeiras, casamentos em crise, massas críticas, erros críticos nos computadores, situações críticas depois de enchentes e avalanches, estados críticos nos hospitais, críticos de cinema... O mundo está tão cheio de crises que eu fico imaginando o que acontecerá no dia em que todas elas estiverem instaladas, ao mesmo tempo, e com força total. Será, então, uma crise de crises?

Nós procuraremos nossos analistas, porque diz a vida moderna que nossas crises devem ser tratadas num divã a algumas centenas de reais por semana. Mas eles também estarão em crise e, possivelmente, procurarão também seus próprios analistas, num ciclo incompatibilizador de horários que culminará numa massa de loucos-pacientes e loucos-analistas, todos procurando ajuda e encontrando apenas linhas e horários ocupados.

Poderemos recorrer aos governos – especialmente nós, brasileiros, tão acostumados a essa relação paternalista. O problema é que os governos do mundo todo estarão unindo esforços para controlar outras crises – a do petróleo, a econômica, a das enchentes e avalanches, e, mais recente, a das agendas dos analistas.

Buscaremos, então, as ONGs. Só que nosso problema não terá nada a ver com o bem dos famintos africanos nem das baleias nem das florestas tropicais, e as ONGs nos fecharão as portas. Numa delas, um funcionário mais mal educado vai nos mandar ao inferno. E nós iremos, porque a crise estará braba àquela altura, e como Deus insiste em não aparecer...

Às portas do inferno, seremos recebidos por um anjo. Ele vai explicar que a crise já chegou no céu, muitos tiveram que ser demitidos, outros tantos despejados e, como espíritos desencarnados, eles não tiveram outra opção – ao que parece, o limbo já era uma zona, desde sempre. Pediremos para conversar com o diabo, mas seremos informados que uma crise de choro o atormenta: depois que tantos anjos começarem a cair, ele não se sentirá mais especial.

Sem outra saída, teremos que tomar medidas desesperadas. E eu agora deveria inventar um final pro texto, mas a verdade é que estou em crise criativa. Desculpaí.

 

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