HISTÓRIAS
DE TERROR: AS TRINTA HORAS
Eduardo Prearo
Dormiu com a porta do apartamento aberta, tinha essa mania; e com o som no último volume. Rock. Um homem entrou no sonho dele. James sentiu beliscões pelo braço, um aperto no pescoço, sentiu-se zonzo dentro do próprio sonho. Acordou por volta das dez, evitando pensamentos sobre contas, evitando pensamentos sobre refúgios diante da crise social, sentindo-se extremamente culpado por causa dos gastos com coisinhas supérfluas, gastos com doces, lombrigas ou gula? Sentia-se amarrado, escravizado pelas preocupações, não percebendo de imediato algo envolvendo seu pescoço. Era uma coisa muita sólida e que não saía. Levantou-se, correu até o espelho e não berrou. O que seria aquilo? Uma voz interior repentina ordenou-lhe que jogasse água benta naquele colar gigante. No chão, um bilhete pisado; sentou-se calmamente para lê-lo:
"A bomba estourará em quinze
horas..
A contagem teve início às duas horas de hoje.
Boa sorte, senhor!"
James não saiu, ficou chorando a tarde toda. Aí anoiteceu e a lua raiou bem cheia. Quando deu por si, já eram vinte e três horas. Conseguiu mexer-se, vestiu-se, ocultou a bomba com dois cachecóis e foi para a rua. Precisava de movimento contínuo. Na estação rodoviária, entrou num último ônibus que ia para alguma parte, desceu numa estrada escura, correu para o mato, ventava. A lince James não percebia as estrelas caindo no céu. Pulou uma cerca, entrou num galpão que era um curral, sentou-se num banco, uns latidos iam diminuindo. Sons de latas, latidos, o coração dele latejava muito. Logan adormeceu pensando em como os personagens dos filmes viviam as últimas horas deles...
Por volta das seis da manhã, uma mulher magra e alta, olhos azuis, tez branquíssima, entrou mansamente no curral empunhando um fuzil. Chamava-se Margarida. Quando James acordou, sete e pouco, notou que ela o fitava com raiva. Ele observou uma rápida transformação nela, veias que inchavam na testa, recuou um pouco e esboçou um sorriso.
- Vai dizendo quem é.
- Perdi-me na estrada. Estou com uma bomba atada aqui, olha. --- James puxou os cachecóis e esse ato pareceu aumentar a raiva de Margarida.
- O senhor veio de um manicômio? Bom, se for uma bomba mesmo e se ela explodir, pelo menos o senhor não irá pra cadeia por invasão de propriedade. A gente conhece muito bem os tipos como o do senhor; pulam a cerca passando-se por loucos e depois levam nosso gado.
- Por favor, não avise as autoridades. Vou para a estrada e te deixo em paz. Adeus. Daqui quinze minutos não estarei mais entre vocês, a bomba vai explodir às oito.
- Cai fora, maluco, ignorante!
Na estrada, uma vaca, nenhum carro passava. Logan sentou-se sobre o pontilhado, estava com dor de barriga.
Dez segundos, Jesus.
Nove segundos, Margarida o anjo da morte?
Oito segundos, uma gaivota.
Sete segundos, uma rosa.
Seis segundos, um homem chamando-lhe de assassino, malandro sem-vergonha!
Cinco segundos, todo o oceano.
Quatro segundos, vagabundo!
Três segundos, Godesh.
Dois segundos, o nada.
Um segundo, trilhões de gritos.
Estrondo.
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.