COM HOMEM SE JOGA
Rosi Luna

Ele olhou pra dondoca daquele jeito: os pés calçados num tênis bamba,os lábios vermelhos groselha, os olhos baixando o trem de pouso no decote. Maior delírio.

Mas foi aquele ar de superioridade tenente:"Que você quer se insinuando pro meu lado, está com a cabeça na lua? Vê se manca, lance da patente, da superioridade, hem?"

A dama de espadas relutou com o valete: "Quero jogar, buraco".Seus seios empinaram no decote do vestido claro, a se exibir num corpinho tentador dos pés a cabeça. "É o seguinte, meu caro, tenho as cartas na manga. Não posso deitar, isso deitar o jogo de preferência numa boa cama?"

Vixe, o mister bamba se tocou do drama da dama das camélias, e lhe veio aquela ânsia de frêmito. Ia ter que mostrar que era macho, ganhar no jogo de palavras.

Parecendo um endiabrado, disse: "A gente podia trocar celular,poesia, fotografia. Marcar a jogada. Tô na sua. Você é tão assim, que tal um jogo de espada?".

O bonitona sacou-lhe a cartada. Disparou: "Vou cheia de graça pra cima de você, não fica aí parado como uma múmia em silêncio, vem de cabeça?"

Ai, baralho, a abelha rainha tá querendo me morder, com todo esse tesão posso até me ferrar. Andou em volta da mesa e contou até sete pra desordenar mais as idéias. Sério, com a ponta do mindinho deslizou no decote da bela da tarde: "A gente pode brincar de parafuso confuso aqui? É tem lugares mais reservados, viu a placa na estrada, Motel Shampoo, vamos lavar as diferenças, o momento chegou".

Bela, arfante: "O que você tem que não repara em mim? Olha a mina de ouro nessa lingerie amarela...".

Ele, sem jeito: " Eu me finjo de desentendido, agora, sou eu: perdi o controle, você tá afim? Dos finalmente? Me fala? Ele, segurando o carteado: "Vira o jogo, divina dama?"
Toda animada, sentindo-se da nobreza, tira da bolsa uma caneta e um papelzinho e entrega ao seu jogador amador: "Pode ligar no celular, faça bom uso".

"Valeu, Valete minha vedete", agradeceu-lhe jogador, depois de girar o tênis e pegar rumo, acendeu um cilindrico tabaco de cheiro adocicado na boca carmesim.

Alvoroçada, pronta pra morder, cachorra no cio disse sim e sim: "Essa batalha é uma guerra de toalha, é com corpo nu que se desencalha! Ele vai ver sol e lua corporal!"

Tirou o vestido e ligou os sentidos aturdidos, derrubando a calcinha cú-de-cotia que ele curtia, na sandice, seu tralalá. Queria ver o belezura preso nas partes íntimas, custasse o que custasse.

Se ela tava duvidosa toda chorosa duvidando da macheza dele, ia ver só. A vontade veio a toda. Escorregando, o bamba só sério, de espada em prumo. Como o virtuoso era sangue quente, tava por cima soltando um grito e agarrando os cambitos dela. O afogado não teve dó. Pediu pra ela dar um puxão e tirar o elemento portador dos peitos pra fora. Havia duas pêras de bico rosado a esperá-lo.

"Gana! Chama o bombeiro e apaga o meu fogo!", gritou descontrolado, comendo a mulher em explosão máxima de desejo.

" Não termina, deixa as horas passar, meu tesão", sussurrou ela, dando a volta. O corpo fixado no dele.

O carinha engoliu um vinho seco. Sabia que com homem não se joga. Pra evitar a armação com maestria, arrumou a desculpa barata - chama jogo de sedução - e mentiu: "Às sete da noite, me acompanha num café? Só não me pede pra virar um iceberg do teu lado, essa mulher que não se come de colher, mas que se saboreia como uma calda, porque estou doido pra me derreter contigo".

Vaidosa de si, ela quase iluminava de desejo. " Combinado! Mas fica light comigo, sou mulher de acasos, de vero, mulher de ter um caso, nada de muita prorrogação, falou ela, com aquele sotaque de dondoca de porcelana francesa.

O leão de chácara da portaria da boite, só ligou as antenas no golpe de sedução. Sintonizei a rádio FM que tocava uma balada propicia para indecência e filosofei: "Tá aí entre Mané e jamé tem uma longa distância, anos a percorrer até ele desfalecer e a paixão reconhecer".

Com homem, minha amiga, não se brinca, se joga.


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