ONDE?
Míriam Salles
Nossas vozes se combinam entre os átomos
do pensamento. Ecoam vívidas,vibrantes, enérgicas como o vento.
Voam livres, encontram-se no firmamento.
Superam a distância e os desencontros. Enfrentam a covardia e o abandono.
Desmancham-se, confundem-se, completam-se, entre as vozes todas que circulam
nessa estratosfera. Nossas vozes encontram seu eco e guiam-se pelo sonar.
Onde haverá outra voz similar?
Não há.
Os sons multiplicam-se pelo ar. Cada som emite seu sinal único, particular.
Cada onda, encontra sua cadência, o mar onde pode se quebrar.
Cada voz que se lança, está a procurar.
Onde haverá outra voz a vibrar?
Nunca haverá.
Nossas ondas encaixaram-se um dia. Nada poderá isso alterar. Nossas vozes
foram uníssono outrora.
Quem pode a isso julgar?
Cada voz segue seu rítmo, sua música, seu tom. Quando acha um
sobre tom, uma nota distoante, desintegra-se, recompõe-se, formando nova
melodia.
Nossas vozes foram côro, foram côr, foram vida. Vida que caiu distraída
e formou uma ferida.
Cai o pano, cessa música, para a orquestra, de sua função
destituida.
Soa longe um som confuso.
Soa perto um som difuso.
Vibra forte nosso silêncio.
Onde haverá outra voz?
Onde?
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