EU QUERO É SILÊNCIO
Maurício Cintrão
O cotidiano faz com que a gente se esqueça dos fatores que irritam. A poluição ambiental, por exemplo. Você se acostuma a essa violência. Pode não gostar, mas aprende viver com ela. Fumaça, mau cheiro e partículas suspensas no ar perdem significado com o tempo. Acho que até o jeito de respirar muda. Como não mata na hora, vira folclore!
Outro exemplo são os movimentos nervosos de pedestres e motoristas. Gradativamente, o morador da grande cidade deixa de reparar nessa loucura. E enlouquece junto, no mesmo agito. Entrar no ritmo é até uma questão de sobrevivência. Tente entrar em um vagão do metrô às 18h00 como se estivesse caminhando na praia ou no parque. Se sobreviver, saberá que nunca mais deve repetir a experiência.
A poluição visual, por sua vez, é um elemento terrível, porque anestesia. Pela repetição, chega a ganhar status de paisagem. É uma não-paisagem. Não dá para reconhecer São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte sem poluição visual. Cada uma a seu modo vem sendo estragada pela publicidade. E pelos pichadores, esses idiotas que ainda não aprenderam a escrever direito.
E tem a poluição sonora. Ah, essa é maravilhosa! Não é cidade grande se não tiver barulhos generalizados. Quando vou a São Paulo, sempre me preparo para enfrentar os congestionamentos pantanosos e aquele ódio contido das ruas e avenidas atulhadas dos variados veículos. Mas não consigo me acostumar ao barulho de escapamentos e buzininhas daquelas malditas motocicletas de motoboys.
Como não estou mais morando na cidade, me espanto com essas coisas. E rio quando algum amigo pergunta com certo tom de descrença: você ainda agüenta morar no Interior?
Não tenho saudade nenhuma dos motoboys.
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