INVERSO DO SOM
Lula Moura
No flash de tempo, no escuro do seu pensamento, não havia mais nada. Só ele, o silêncio e a imcompreensível sensação.
A dor era palpável e a larva da imaginação escorria obscura no universo da perplexidade do que ocorrerera. A morte já não lhe dizia muito. O vazio sim.
Jurou não mais confiar no seu taco
e confiou a sua confinação aos confins do nada para que tivesse
certeza de que era aquilo que lhe fazia assim tão incerto do tudo. Mesmo
que a frase ficasse sem vírgula e, assim, não desse pra respirar
muito.
Forte mesmo só a certeza de que o futuro é próspero, assim
como o ano-novo passado. E o próprio mêdo tinha seus dias contados.
O trabalho voltaria. A luz ao final do túnel seria apenas uma luz. Mas
a sensação de dor replicava nos quatro cantos do seu corpo.
Buscava no eco, uma explicação
para tudo. Mas quase sempre o som não retornava e o tal eco era um conjunto
vazio, inverso do som...
Súbito, o grito: - Valdemar, Valdemar !
Quase caiu da cama, olhou o relógio, 3:45 da manhã. Foi à janela, xingou todo o mundo e pediu para que parassem a gritaria. Olhou para o lado: sua mulher e seu filho...
Lembrou do sonho e ficou tentando entender o que, na história imaginativa, havia acontecido. Nada lhe vinha. Mas, ao ver que era apenas um pesadelo, sorriu, respirou aliviado, lembrou da janta e, antes de voltar à dormir, murmurou:
- Merda de feijoada !...
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