...E CAIU A ÚLTIMA PÉTALA
Juraci

Aquele olhar estava engolindo-a em todas as direções. Um olhar voluptuoso de desejo safado e prolongado. Todos os dias era um suplício dar aulas naquela turma. O olhar masculino desnudando-a, perturbava Hanna. Tremia ao abrir a caixinha de giz. Muitas vezes deslizava de sua mão, saia rolando até ser barrado pelos fortes pares de sapatos pretos, em muralha. Com delicadeza, Lukas devolvia o giz acompanhado de algum elogio perturbador: “O canto da tua voz é como doce mel a acalentar meus ouvidos” – disse na primeira oportunidade que lhe surgiu. Ela o ignorou – já descontrolada - dando uma meia volta para localizar a página do conteúdo, no livro. A aula fora interminável para ela.
Certa vez, ao devolver a caneta, demostrou seu interesse, coçando a palma da mão dela, com o indicador assanhado. Esse gesto, na região, era conhecido como um convite ao sexo. Proibido para as moças. Ela o recriminou com um “rabo-de-olho” quase denunciador aos alunos. Sentiu o olhar dele queimando o seu pudor. Lukas fazia de propósito. Queria espalhar a todos o quanto a amava mas ainda não tinha certeza dos sentimentos dela. Sentava sempre na cadeira da frente, encostando o ombro esquerdo, na parede. Incomodava a ela, aqueles olhos verdes brilhantes, sem outro rumo para olhar. Hanna se perdia na hora da explanação da matéria. Os alunos gostavam da matemática que ela ensinava e Lukas era um ás nos cálculos. Era craque também na sua maneira de vestir, de sentar, de se perfumar e cativar. Possuía uma fórmula própria de olhar, fulminante, quase machucando.
“Deus, como me desarma esse olhar felino” – ela pensava.
“Não vou assediar aluno. Todos pensarão assim, mesmo sendo eu a assediada” – continuava se martelando. Hanna era avessa a esse tipo de coisa.
Dia desses, ela entrou na sala disposta a não olhar para o lado direito próximo à sua mesa. Não olharia para toda aquela fila. Nada de atendimento individualizado por ali. Não cumpriu o decidido. Foi olhando o que não desejava.
Seu olhar pousou no colo de Lukas. Observou marca de pênis volumoso. Fixou ali mais tempo do que o necessário. Tremeu. Sentiu-se úmida e rubra. Não fez mais nada. Seu próximo momento de consciência foi quando um aluno perguntou se não estava se sentindo bem. O silêncio foi a sua resposta:
“Deus, como está difícil dar esta aula!” Caminhou para encostar-se no parapeito da janela. Mirou tudo lá fora sem apreciar nada, apesar da bela paisagem. Folhagem imensa, verde em abundância. Respirou fundo... Precisava terminar sua aula sem dar vexame. Voltou ao quadro e continuou seu trabalho mantendo uma falsa tranqüilidade. Sexo era para ela um assunto para depois do casamento e ela ainda muito moça, estava solteira.
Despercebido nada passou aos olhos sedentos de Lukas.

Novos dias, novas aulas novos momentos. Hanna estava cedendo. Preocupava mais com a aparência, em estar mais linda. Lukas a achava bela e perfeita. Alta, magra e elegante. Ele a queria. Ela reagia sempre na defensiva.
Certa vez, já no final da aula, passou o olhar como um relâmpago no lugar proibido, desejado. Para seu descontrole maior, percebeu que o pênis do Lukas estava à mostra, pela braguilha semi-aberta. O braço direito fazia uma muralha de proteção. Só quem estava de frente poderia perceber. Hanna percebia. Lukas, com a mão esquerda, fazia carinhos e massagens no seu membro ereto. A professora desviava o olhar que não queria desviar. Sentou-se e deliciou-se enquanto todos decifravam cálculos. Sentiu-se penetrada em plena sala de aula. Era tudo muito novo, muito louco. Experimentou um gozo ali mesmo, ao som da sineta indicando o final do turno.
Todos saíram em euforia. Lukas levantou-se e numa loucura compassada, caminhou em frente e abraçou a professora ainda receoso de uma negativa. A recíproca fora verdadeira. Sentiu-a tépida e sedosa, perfumada e atrevida. Beijou-a sofregamente. Mãos procuravam por frestas para massajar clitóris úmido-ansioso e pênis faminto-teimoso. Era uma loucura gostosa, proibida, ousada.
Um olho na janela a observar se o serviçal já vinha varrer aquela última sala do prédio, escondida atrás de enormes árvores, outro na escultura masculina em erupção. E o vulcão derramou sua lava num êxtase enlouquecido, ao ser mordiscado carinhosamente por Hanna. Logo depois, caiu ali mesmo, a última pétala da rosa reservada, num brilhar de olhos verde-esmeralda assustados, numa nova descoberta
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