TIRA A MÃO
Cristina Del Nero

O filme mal havia começado, quando o silêncio do cinema foi quebrado pela voz assustada de uma moça:

- Tira a mão do meu joelho!

Alguns pediram silêncio. Outros começaram a rir. Do tarado, nem um pio. Mais algumas cenas comuns, outras mais românticas. Novamente, a moça grita:

- Dá pra tirar a mão da minha coxa?

Os que estavam por perto levantaram o pescoço, pra ver quem era o Dom Juan. Duas senhoras cochicharam:

- Se está incomodando tanto, por que ela não muda de lugar?

Silêncio. O filme estava tenso. O ambiente mais ainda. Quando a heroína do filme está prestes a confessar seu amor pelo primo casado, a moça assediada rouba a cena:

- Pára de roçar o braço em mim! Mas que coisa!

O cinema se dividiu: uns torciam pela donzela, outros pelo cara de pau, que não desistia. O filme continua. A moça também:

- Mas será o Benedito?

Um engraçadinho berra do fundo do cinema:

- Não, é um tarado!

A platéia ri. As duas senhoras se retiram do cinema.

A heroína do filme beija o primo, mas é flagrada pela tia solteirona, que usa um tapa-olho. O grito da tia é encoberto pelo grito da moça:

- Tira a mão daí!

Tensão geral. Outro engraçadinho:

- Daí onde?

O filme já virou confusão. A tia solteirona se atraca ao sobrinho. Aparece em cena um cachorro igualzinho à Lessie, que ninguém soube responder qual era o seu papel no filme. A moça põe um fim na história:

- Chega!

Ela se levanta. O cinema inteiro acompanha seus movimentos. Atrás dela, vai um cara meio careca, meio cabisbaixo. Ela marcha em direção à porta. Quando os dois já estão quase saindo, a moça fala sua frase final:

- Quero ver você repetir tudo isso em casa, seu frouxo.


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