RAIVA
Osvaldo Luiz Pastorelli
Com as costas apoiada na cabeceira da cama, observava o quarto. Pequeno, pouca mobília, a cama, o guarda-roupa embutido, o espelho e uma mesinha onde estava a televisão ligada num filme pornô.
Notou, estava tudo limpo, cheirando a higiene. Esticou o corpo e desligou a televisão. Aquilo já estava saturando sua paciência.
Nisso a porta abriu e ela entrou. Loira, não muito alta, peito firme, cintura delicada, anca cheia, pernas lisas, torneadas, mas o que prendera sua atenção foram os olhos doces, de bondade expressiva, como se neles alojasse a calma precisa.
- Escuta. Você precisa ir agora.
- O que...?
Ela sentou ao lado dele passando a mão no seu cabelo preto.
Mesmo calma, sua voz lenta soou como pequenos estilhaços ferindo sua pele nua deixando-o melancólico e angustiado.
- Por favor, seja amigo como foi até agora e me entenda.
- Está bem. Mas você...
- Eu sei, eu sei. Da outra vez, eu prometo.
Ficou observando ele se vestir. Até que tinha um corpo bonito, cheio, bem proporcionado, tronco forte, ombros largos, e o que ela mais gostava, tinha os pelos nos lugares certos. Gostava dele, mas ele não podia saber.
- Olha, toma.
Sobressaltou-se. Distraída não percebeu que ele já estava vestido e lhe oferecia dinheiro.
- Não precisa pagar.
- Mas tomei seu tempo.
- Tudo bem, a gente mais conversou do que outra coisa.
E foi empurrando ele para fora do quarto. Ao passar pela sala, notou a silhueta de um homem.
- Não deixe de telefonar.
Falou segurando a porta meia aberta.
- Ok.
Já tinha dado uns dois passos quando se sentiu puxado e sua respiração sendo presa pelos lábios dela. Correspondeu sugando o prazer que lhe dava aquela boca. Ao mesmo tempo que era beijado, sentiu a mão dela na braguilha apertando o pênis por cima da calça com certa força que sem perceber gritou.
- Sua safada.
Rindo ela entrou fechando a porta.
Deu meia volta e desceu as escadas. Do outro lado da calçada olhou para a janela do apartamento dela. Ela estava sendo abraçada por trás enquanto puxava a cortina. Deu um pontapé na lata de coca que voou longe.
- Droga! Como o mundo é cheio de armadilhas e o ser humano é uma merda.
Foi embora descendo a avenida em direção
ao centro....
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