MARIA DA DORES AMANDA
Eduardo Selga
Vês quem está aqui aos meus
pés,
morta por uma dor insuportável,
navio negreiro sangrando pelo convés,
diluída em cacos,
amontoado de trapos,
puro revés?
Não enxergas, está claro:
és, num só, escuridão e labirinto
e Minotauro mastigando o que eu sentia
por vossa pessoa,
aquele todo amor à toa,
irresponsável que só.
Só soçobrei sozinha nos assombrados oceanos das dores.
Das Dores. Estás agora memória em dia?
Uma das muitas tuas Marias
para quem juraste a glória dum amor sem condicionantes,
sem mais amadas, sem outras Amandas.
Lembras disseste-me isso lá atrás, bem antes?
Mas hoje o dia tem mais nuvens chorosas,
tuas palavras sinceras mudaram de endereço
que não a pracinha onde nos beijávamos,
teu buquê tem outras rosas.
Será que eu mereço?
Vês quem está aqui aos meus pés,
morta por uma dor insuportável?
É o que restou de minha alma,
ao lado do meu corpo infelizmente inteiro.
Mas ainda assino Marias Das Dores Amanda
embora a vida tenha perdido a rima,
a sonoridade,
a cadência.
Mas quem mandou crer em vossa verdade cheirando a lavanda,
em vossa decência?
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