MONTANA'S DUETS
Eduardo Prearo

Está se abrindo a flor da Montana e não é somente uma, são duas que se abrem, num dueto. Sixto não sabe se pinta aquela parede cheia de sigilos azuis, nem sabe se ainda vai limpar o chão do piso frio. A água do balde depois escura era jogada na privada ou então na banheira. Se entrou alguém naquela casa, nos últimos nove meses, além dele, não percebeu, era alguém do plano invisível. A casa ficará esvaziada, expelindo-o para o mundo cão, e o próximo morador será donaire, com certeza. Ontem, ele ia dobrando uma esquina, um homem cuspiu alguma coisa e disse "um centavo!". É isso, um centavo. Não pretende gastar um centavo, está quase no núcleo do furacão. Seus centavos repousam sob um Buda meio bravo, estão enferrujados. Seus centavos são como ele.

Está se abrindo a flor da Montana, o ponteiro maior do relógio gira, Sixto boceja. O negócio parece feio, parece década de noventa, século vinte. Sixto não soube utilizar bem essa energia chamada dinheiro, nem reter ao máximo suas energias relativas ao sexo. Vai pro inferno! Vai pro bingo, pra alguma estação andar de trem, eternamente, trem que descarrila tornando tudo pior.

Duas flores da Montana se abrindo, num dueto. Sixto começará a sorrir quando não tiver mais dentes, sorrir um sorriso espontâneo, gostoso. Sua única estabilidade ainda é a vida. Os problemas mentais mesclam-se com os financeiros. Seria bom pedir ajuda aos seres evoluídos de um bilhão de supergaláxias? Levariam-no até Deus? Não sabe, o tempo parece inimigo por causa das cobranças do amanhã, mas não por causa das duas flores da Montana que estão se abrindo. Que ansiedade! Sixto sabe que ouvirá o que não quer ouvir, que invejará os rapazes independentes e sagazes. Ele está quase no núcleo de um furacão, estilhaçado, para nunca mais se recompor...

 

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