CARAS BOCAS
Vic Laurel

 

Homens e mulheres diferenciam-se, essencialmente, por seus órgãos reprodutores, por certas protuberâncias e reentrâncias particulares de cada um, pela quantidade de pêlos nos corpos e pela boca – sim, a boca, sem tentativas de eufemismo.

As bocas dos homens têm como funções básicas permitir a entrada de comida e a saída de gases, servir de canal para a vocalização de uma série de comentários geralmente imbecis e tentar inutilmente conter o ímpeto masculino de enfiar a língua na primeira garganta que cruzar seu caminho. As bocas das mulheres, por outro lado, ainda que desempenhem também funções simplistas e superficiais, são, acima de tudo, um instrumento de conquista de espaço social e controle mental.

Em estado de inércia, as bocas das mulheres exercem seu poder hipnótico sobre os seres do sexo oposto, fazendo com que se percam em olhares abobalhados e nada furtivos a qualquer instante e em qualquer local. Este fenômeno pode ser observado com maior clareza em situações em que as bocas se encontram entreabertas, deixando ser vistas pequenas partes dos dentes e talvez uma ponta de língua a tocá-los. Como se não bastasse, as bocas das mulheres ainda contam com um sem número de artifícios de camuflagem para deixá-las ainda mais atraentes ao espécime masculino.

Os poderes das bocas das mulheres se expandem de forma impressionante quando elas saem do estado de repouso. O primeiro ponto a ser notado é sua imensurável capacidade de realizar movimentos sutis, os chamados trejeitos, que provocam um comportamento de abnegação mental ainda maior do que a hipnose, em que o homem não apenas se priva do raciocínio e aceita sugestões, mas começa a ter delírios, notadamente de caráter romântico e/ou erótico.

Um estágio mais avançado de controle surge quando a boca da mulher começa a emitir sons. Ainda que haja uma grande variação de tons – e alguns deles não sejam de fato agradáveis – existe o fantástico recurso dos sons roucos, sussurros e gemidos. Curiosamente, estudos comprovaram que em 97% dos casos não importam as palavras usadas: neste momento, as bocas das mulheres estão aptas a obter de um homem praticamente qualquer coisa.

O maior poder da boca da mulher, contudo, se concentra no contato direto. Este contato pode se dar em diversos níveis, de acordo com o ponto de interação e sua intensidade. Foram muitas, até hoje, as tentativas de medição desta força, mas todas em vão. É sabido, porém, que determinadas combinações, conhecidas apenas pelas bocas das mulheres, provocam a total subjugação de um homem, independente de raça, idade, altura ou peso, tornando-o seu escravo. Este estado não é permanente e, uma vez atingido, o homem desenvolve uma espécie de imunidade temporária às bocas das mulheres.

Para que esses problemas sejam corrigidos e as falhas no processo não ocorram mais, as bodas das mulheres continuam investindo alto em pesquisas e treinamento. Felizmente.

 

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