DOIS ACHADOS NUMA NOITE
PERDIDA
Osvaldo Luiz Pastorelli
Com movimento não muito rápido, mas decidido, Marciel enfiou a mão no bolso traseiro e tirou a carteira. Satisfeito e contente separou a quantia certa e chamou o garçom para pagar a conta. Do outro lado da mesa Nana via a alegria estampada no rosto moreno do amigo e sorriu com aquele sorriso de leve que encantava Marciel ao ver a boca da mulher amada demonstrando assim que estava contente também. Quantas vezes sonhara com a boca linda e sensual de mulher... Nana ao ver o simples gesto de mostrar masculinidade sem ser machão sentiu-se confiante em estar na presença dele. Marciel notou em seu peito o gosto saboroso de estar na companhia da amiga e ela sabia disso tanto quanto ele sabia da felicidade dela. Sem se perguntar, coisa que não queria fazer, mas tinha uma leve impressão que tanto ela como ele estavam se apaixonando. Desde o aniversário dele, dia 19 de abril, vinham se encontrando regularmente. Logo que o garçom lhe entregou o troco saíram do restaurante.
A noite se punha agradável para eles que sorrindo receberam o frescor úmido. Marciel podia até gritar a plenos pulmões tudo o que sentia naquele momento. E foi o que fez:
- Noite como está agradável, mas não tão bonita como os olhos brilhantes morenos da Nana.
- Você está embriagado, disse sorrindo abraçando o corpo moreno.
- Sim, é extremamente verdade, falou beijando o rosto da amiga, sim estou embriagado, mas pela sua companhia, pela sua beleza, pelo seu amor, por ouvir de sua boca de mulher essa voz que me faz feliz.
Nana puxando-o pela mão gritou:
- Venha, vamos atravessar, o farol abriu.
Chegando do outro lado da rua, Marciel continuou o seu discurso:
- Hoje minha querida, é uma daquelas noites em que eu faria amor com todo mundo e com tudo de tanta felicidade que bate em meu peito. Mas...
- Mas o que?
- To querendo...
- O que?
- Urinar...
- Acabamos de sair do restaurante...!!
- Eu sei...
- Também quem manda tomar muita cerveja!
- Não vou agüentar...
- Faça aí nessa árvore.
- Você sabe que isso para mim é difícil. Se não for num banheiro, entre quatro paredes, não consigo.
É ela sabia disso. Quantos apuros já não passaram por causa da timidez dele. Olhando para o rosto aflito do amigo Nana teve um lampejo malicioso que colocou em prática. Sabia que Marciel queria fazer amor com ela há bastante tempo. Pensativa com medo da reação dele, propôs:
- Bom vou propor algo a você.
- O que é?
- Se você conseguir urinar na árvore a gente faz amor.
- O que? Você ta é tirando uma da minha cara.
- É verdade, passo a noite toda com você.
Ele não acreditava no que ouvia. Desejava tanto o amor dela que tinha instantes o peito parecia estourar e a garganta fechar pela raiva da emoção contida. E agora ela vinha propor o que mais ele queria! Nana sabia da impossibilidade dele, por isso fizera a proposta, mas se surpreendeu vendo-o se dirigir para a árvore e abaixar o zíper da braguilha. Começou a se arrepender do que dissera. Não muito confiante, mas decidido Marciel abaixou o zíper e encostou-se à árvore. A bexiga estava estourando mesmo assim procurou se concentrar tentou se imaginar num banheiro fechado, não ouvir o barulho dos carros, as vozes dos pedestres, fixou o olhar num ponto. Dizendo mentalmente: Eu vou conseguir, vou conseguir. E já estava conseguindo quando ouviu em seu ouvido Nana dizendo:
- Isso, você consegue. É só lembrar em mim, na proposta que te fiz.
E enquanto falava, abraçou o amigo por traz e começou acariciar o peito liso e lentamente dirigiu a mão para a braguilha aberta. Nisso Nana vendo que ele estava conseguindo, e que sua proposta ia se concretizar, falou alto no ouvido dele:
- Olha vem vindo um guarda.
E saiu correndo. Marciel assustado, rapidamente fechou a braguilha e seguiu Nana que virava o quarteirão. Alcançou a amiga na escada rolante.
- Por que me assustou?
- Por brincadeira.
- Ou por arrependimento? Estava conseguindo se não fosse me assustar.
Nana ria sem parar e apontou para a calça dele.
- Droga! Viu o que você me fez.
- Eu não. Você que estava urinando. Fechasse a braguilha depois.
Marciel tirou a blusa e amarrou na cintura para tampar a mancha escura que tinha ficado na calça. Nisso Nana chegou mais perto dele. Fazendo menção em dar-lhe um beijo, enfiou a mão por baixo da blusa e apertou carinhosamente o membro que Marciel desprevenido deu um pulo para traz. Nana gritou:
- Medroso.
E entrou rápida no trem ao ouvir o sinal seguido por Marciel que ficou espremido na porta, mas conseguiu entrar. Nana sentou num banco perto de duas senhoras de idade, sem dar importância para os olhares das senhoras, Marciel sentou bem junto e abraçou a amiga beijando-a na boca. Nana retribui e propositadamente fez questão de prolongar o beijo mais que pode. E mais uma vez, lentamente introduziu a mão por baixo da blusa deixando Marciel apreensivo sem saber o que a amiga poderia fazer. Dali a instantes percebeu os dedos dela abrindo a braguilha. Marciel comprimiu as pernas prendendo a mão de Nana. Estava gostoso sentir a pele suave da mão morena da amiga. Aos poucos ele foi se excitando desejando prolongar a brincadeira, nisso o trem parou.
- Minha estação, tchau Marciel.
Rapidamente levantou sem esperar o companheiro e saiu do trem em tempo antes que a porta fechasse. Marciel num ímpeto sem pensar quis acompanhar a amiga, mas ao se levantar a blusa caiu e deixou a braguilha aberta e o membro amostra. As duas senhoras soltaram um oh reprimido fazendo com que o pobre do Marciel voltasse e se sentasse cobrindo a vergonha com a blusa novamente. Mal dera tempo de dar um aceno para Nana que da plataforma ria ao ver a atrapalhação do amigo. Marciel encostou a cabeça no vidro olhando a escuridão ponteada de luzes relembrando todos os últimos instantes passados com a amiga. Será que estava apaixonado por ela? E ela, estaria por ele? Como ela tinha uma mão gostosa, meu Deus! Por que tinha ela que descer? Por que não continuou como estava? Lá estava ela toda de branco, com gestos suaves retirava peça por peça do seu corpo. Uma por uma, se aproximando cada vez mais dele. Já estava bem pertinho dele, já sentia o calor da respiração dela, até o seu cheiro atiçando o desejo dele, quando acordou sobressaltado.
- Vamos, moço acorde, ponto final, tem que descer.
Tinha cochilado. Sonhava com ela. Foi então que notou uma quentura na perna, precisamente na coxa esquerda. Sobressaltou-se.
- Caramba! Não cochilei, dormi, sonhava e acabei me melando todo, que coisa, disse amarrando novamente a blusa na cintura.
Contente com a vida que caminhava numa linha reta de felicidade, Marciel deu um pulo esmurrando o ar como o seu ídolo fazia.
Nisso a cena congelou deixando ele estático
no alto enquanto o letreiro subindo apresentava o fim.
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