MARCA DE BATOM
Cristina Del Nero

- Carlos, seu canalha.
- Chamou, amor?
- Desgraçado, o que essa mancha de batom está fazendo no seu
colarinho?
- Tem certeza que é batom?
- O que mais seria vermelho e com esse formato de uma boca de
mulher?
- Uma mancha de nascença?
- Cara de pau.
- Tá bom, vai. É batom.
- Posso saber como ele foi parar aqui?
- Olha, se eu te contar você não vai acreditar.
- Desembucha.
- Foi o Zé Eduardo.
- Quem?
- O Zé Eduardo, lá do escritório.
- O Zé usou a sua camisa?
- Não, o batom.
- Inventa outra que essa não vai colar.
- Olha, se você começar a desconfiar de mim antes de eu contar...
- Carlos, eu desconfio de você desde a nossa lua-de- mel.
- Tá vendo?
- Vai, não adianta mudar de assunto.
- O batom é do Zé Eduardo.
- Agora você se superou.
- Minha filha, você precisa abrir mais a sua cabecinha: o Zé Eduardo
agora é metrossexual.
- Metrossexual?
- Igual ao David Beckham, sabe?
- Eu sei o que é metrossexual, Carlos, eu só não entendo o que o Zé
Eduardo tem a ver com o David Beckman.
- Ué, eles resolveram assumir que são vaidosos.
- Mas o Zé tem barriga.
- Tinha, agora ele tem tanquinho.
- E usa batom?
- Batom e rímel, pra realçar os cílios. Você já viu o tamanho dos cílios
dele?
- Pera lá: mas isso não explica a mancha na sua camisa.
- Claro que explica.
- Você está me dizendo que você e o Zé Eduardo andam pelos cantos
se agarrando?
- Que agarrando, o que! Foi só uma abraço de amigo.
- Isso é coisa de metrossexual?
- Não, isso é coisa de Corinthiano. Chegar na 2ª depois de uma vitória
do timão, vale um abraço. Ou não vale?
- Não sei, não.
- Vem cá, minha lindinha. Você quer que eu vire metrossexual?
- Não, Carlão, eu quero que você pare de me enrolar.
- Deixa disso, vem cá.

No dia seguinte, no escritório:

- Zé, trouxe um presentinho pra você.
- Um batom?
- Pra todos os efeitos, agora você usa batom.
- Uso?
- Se a Aninha perguntar, você é metrossexual e usa batom
diariamente.
- Metrossexual?
- E vê se perde essa barriga!

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