RICARDO E RITA 3
Osvaldo Luiz Pastorelli
Rita levantou-se no mesmo horário de sempre. Tomou café requentado com leite comeu um pão com manteiga e saiu. Forçava a não pensar no acontecimento da noite anterior, não queria dar uma opinião sobre a atitude de Ricardo. Não queria ser taxada de louca varrida. Ela ser taxada de louca! Imagina! E varrida ainda por cima.Sabia que ele estava tão somente querendo se mostrar, o que não entendia era que ele já estando entro do acordo que fizeram, tinha que agir imprudentemente? Tudo bem que seja, mas não precisava se embriagar daquela maneira a ponto de ser esquecido como um bêbado inveterado. Ela também já estava agindo dentro do acordo e se ele não percebeu o azar era dele. Desceu a escada apressada. Agora o que faria ela ou, o melhor, o que fariam eles? Não sabia, continuariam vivendo, continuariam se vendo, isso era o mais provável. Ricardo não conseguia demonstrar veracidade no movimento físico e mental. Ela precisava sondar os cantos que se revelavam meios sombrios espargindo um pouco de luz sobre eles. Sentia uma parte de si cansada, queria sentar ficar parada olhando um ponto fixo e nada mais. Porém era obrigada a se mexer, a andar, a falar, a pensar, e o pior, decidir as ações tanto dela como a dele.
Pegou o ônibus que àquela hora estava meio cheio.
Por que ele tinha de agir violentamente sobre ela? O peito ardia, sufocava, queria gritar. No entanto continuou entregue ao balanço do ônibus. Sua dor era advinda por sentir-se culpada em deixar Ricardo bêbado na boate. Teria ela agido certo ou fora apenas uma compulsão pelo fato de terem feito o acordo. E porque fizeram o acordo? E porque ele teve que aceitar? Não sentira muita convicção na aceitação de Ricardo e, por outro lado, fazendo o acordo achou que poderia entender melhor Ricardo com seus movimentos egocêntricos e desajustado. Não sabia, apenas queria voltar o tempo para traz e desfazer o que fora feito. Porém o ônibus, assim como a vida, tinha o itinerário para ser comprido. De repente ela se viu em frente ao prédio que trabalhava.
Resignada subiu no elevador suportando o conflito instalado nela. Não olhava para ninguém, ainda bem que não encontrou nenhum conhecido. Entrou na sala, deu um bom dia evasivo e sentou-se à mesa. Ligou o micro, soltou os braços ao longo do corpo quando a culpa por deixar Ricardo na boate totalmente bêbado reagiu dentro dela como espinho, dizendo-lhe que fizera uma bobagem. Que devia procurar por ele e verificar se nada de mau lhe acontecera.
Rápida, desligou o micro, pegou a bolsa e saiu apressada.
Chegando na boate encontrou um rapaz lavando a calçada.
- Por favor?
- Sim.
- Ontem à noite sai daqui e deixei meu amigo, o rapaz que estava comigo caído, ele estava bêbado. Pode me dizer o que foi feito dele?
- Olha, entra e fale com o rapaz que está no balcão, talvez ele poderá te informar.
- Obrigada.
Rita entrou tateando o ambiente meio escuro. Parou para a vista se acostumar com a meia claridade.Viu o rapaz arrumando os copos sobre o balcão.
- Por favor?
- Desculpe, mas está cedo...
- Por favor, quero apenas uma informação.
- Pois não.
- Você estava aqui ontem à noite?
- Sim, porque?
- É que ontem deixei meu amigo aqui embriagado, poderia me dizer o que foi feito dele.
- Ah, o rapaz bêbado que foi encontrado caído entre as cadeiras? Foi posto pra fora pelos seguranças, e ele passou a noite toda deitado na calçada.
- E hoje de manhã ninguém viu para onde ele foi?
- Não, sinto muito.
- Obrigada.
Rita saiu sem saber o que fazer. E agora? Para onde ele teria ido? Para o trabalho? Não sei, talvez tenha ido até ao apartamento para tomar banho e se trocar. Isso mesmo! Sentiu um alento a descomprimir o peito. Correu para lá no intuito de desfazer o acordo e pedir perdão pelo seu ato involuntário até maldoso. Ao abrir a porta constatou que o apartamento estava vazio. Olhou no quarto, na cozinha, no banheiro... Como se tivesse levado uma pedrada sentou desolada na poltrona. Viu então em cima da mesinha um papel com a letra dele. Leu o que estava escrito. Deu um grito.
Não era verdade, não podia ser. E agora o que seria dela?
Debruçou-se no braço da poltrona caindo num choro convulsivo.
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