NEURA
Cristina Del Nero

Prédio comercial. Mulher entra no elevador e dá de cara com três seguranças de carro-forte, armados até os dentes. Ela olha para as armas fixamente. Parecem de brinquedo, mas ela sabe que são de verdade. E estão dentro do elevador com ela, onde não existe nenhuma saída de emergência por onde ela possa escapar. O silêncio constrangedor do elevador é quebrado:

– Suponhamos que vocês fiquem loucos e resolvam atirar em mim.

– Como, senhora?

– É, suponhamos, faz de conta que vocês estão nervosos e resolvam descontar a sua ira em mim, assim, sem mais nem menos, e enfiem uma dessas armas na minha boca e exijam todas as minhas jóias.

Silêncio ainda mais constrangedor.

– E como eu não estou usando nenhuma jóia de valor, como vocês podem observar, e esse relógio é descaradamente falso, vocês ficam com mais raiva ainda e exigem que eu dirija esse elevador até o caixa eletrônico mais próximo e retire todo o dinheiro que eu não tenho do banco.

– Senhora, calma ...

– E como se não bastasse, enquanto vocês recitam todos os palavrões que conhecem no meu ouvido, o meu cartão do banco, que nunca funciona quando eu preciso dele, fica preso dentro do caixa eletrônico e vocês apontam esse revólver imenso bem no meu nariz e resolvem atirar.

– Calma, a senhora está gritando.

– Mas aí, pra não perder a viagem, vocês resolvem me seqüestrar e exigem um resgate de um milhão de dólares em troca da minha vida. O que vocês nem imaginam é que o canalha do meu marido, que está louco pra se livrar de mim, vai rir na cara de vocês. Vai rir tanto que vocês ficam com pena de mim e resolvem poupar a minha vida, mas eu sei que eu preciso ser eliminada, queima de arquivo, vocês me entendem. Mas eu juro, olha eu juro mesmo que eu não vou fazer escândalo, não vou contar pra ninguém, nem mesmo no cabeleireiro. No final, vocês me soltam, não sem antes me ameaçar de morte caso eu abra a boca.

O elevador chega no térreo. Os três saem aliviados.

– Tenha um bom dia, madame.

– Vocês também. E olha, obrigada por poupar a minha vida. Eu jamais esquecerei.

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