O GATINHO
Argento

 
Essa aconteceu durante uma viagem para uma cidadezinha do interior de Minas Gerais.

Contam que havia uma mulher, que aqui chamaremos simplesmente de Ana, que era estéril e adotou um gatinho. Aquele bichano era tudo para ela, tratava-o como se fosse seu próprio filho.

O animal vivia "enjaulado" digo, "engaiolado", pois a tal Dona Ana era tão chata que tinha medo que o gato tentasse fugir.

Durante a noite, na casa que eles alugaram, as famílias que faziam parte do rateio, se espalhavam pelos cômodos em diversos colchonetes. Todas as noites, na hora em que todos iriam dormir, o pobre do animalzinho era solto. Esqueci também de dizer que todas as janelas eram trancadas pela protagonista que tinha verdadeiro pavor que o gatinho tentasse escapar.

Um belo dia uma das amigas, que dividia o imóvel, chegou um pouco mais cedo e com "pena" do felino soltou-o antes de cair nos braços de "Morfeu".

Todos dormiam tranqüilos naquela noite até que Dona Ana rompeu esbaforida pela sala gritando que o seu "filho" havia sumido.

- Cadê meu filhinho? Deixaram a janela da cozinha com uma abertura, ele deve ter fugido por ela! Quem foi que fez essa maldade comigo? Como é que eu vou ficar sem meu bichinho? - Chorou a ensandecida mulher.

- Eu cheguei mais cedo ontem e abri a gaiola, não reparei que havia uma pequena abertura na janela da cozinha! Por favor, me desculpe. - Explicou a mocinha para a tal "Dona Louca".
Foi uma confusão danada!

Contam que a "maluca" mandou colocar um carro de som pela cidadezinha em alto volume :

- Quem vir um gatinho branco, favor devolver na casa 14 da Rua Tiradentes para a Dona Ana, ela está muito triste com o sumiço do bichano!

O povo ficou sem entender nada, afinal o que mais tinha naquela cidadezinha era gato, e gato branco então eram aos montes.

Passaram-se três dias e nada do tal felino aparecer, foi quando o "Coquinha", um amigo deles, acordou do transe. Ele ainda estava sentindo o efeito do "cigarrinho mágico" da noite anterior.

Informaram-lhe do ocorrido, e o tal sujeito começou a gargalhar da situação.

- O quê? Aquele gatinho bobão fugiu? Saiu pela janela da cozinha e foi embora? Acho que ele não agüentava mais a "Ana Furacão"! Ela é mesmo uma "pentelha"! - Bradou aos risos o "príncipe das drogas".

Dona Ana ficou muito brava e queria bater no "amigo". Ele que não era besta nem nada, saiu de casa, olhou a janela da "fuga" pelo lado de fora e soltou a seguinte pérola:

- Esse gatinho bobalhão não pode ter ido muito longe! Ele é muito medroso! Aposto que entrou no porão da casa e deve estar tremendo de medo!

Todos ficaram perplexos diante da brilhante conclusão do "Sherlock Holmes viajandão".

Foram verificar e por mais incrível que possa parecer o gatinho estava faminto e tremendo de medo num cantinho do tal porão. Não sabemos se era medo de algum rato ou pavor por ter sido descoberto e ter que retornar aos braços da Dona "Louca".
 

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