SANGUE INDÍGENA
Suzana Garcia
Mariana nunca soube, ao certo, explicar seu comportamento de lutadora.Algumas pessoas de seu conhecimento, as mais íntimas, diziam que era briguenta. Brigava por quase tudo, mas principalmente por situações nas quais as chamadas minorias ficavam sem respostas ou não conseguiam reagir.
Uma vez, foi na fila da lotérica,
num dia em que o prêmio estava acumulado e o dono não quis atender
uma jovem que só desejava colocar créditos no seu bilhete único
(uma alternativa criada pela prefeitura quando com uma passagem as pessoas dispõem
de duas horas para locomoverem-se em qualquer ônibus pagando apenas uma
viagem), bastou ouvir o não do dono e Mariana logo tomou as dores da
jovem argumentando que chamaria a polícia caso ele não a atendesse.Outra
vez, fechou uma avenida com seu carro porque uma Kombi arrastava um cavalo.Já
fechou um circo após chamar o IBAMA e deu queixa em uma delegacia sobre
uma mulher que espancava uma criança na rua.
Sua mãe não aprovava seu
comportamento, seu marido não gostava de sair em público com ela
e sua filha, quando saia, rezava para ter um dia normal.
Dia normal ?
Não há dias normais ultimamente, dizia Mariana.
Como pode ser normal motoristas que não obedecem aos sinais, idosos sendo
mal tratados, políticos roubando, assalto a cada esquina e consumidores
sendo lesados ?
Para Mariana o normal é a solidariedade, o carinho e o respeito ao próximo.
Nos dias de hoje, dizia Mariana, eu é
que sou anormal, meus dias são anormais e minha vida uma constante luta,
talvez esteja no sangue, um gen de minha bisavó materna,
Índia.
Questão de sangue...
Certamente com raízes profundas em
uma história que não tem fim.
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