O GARGALHADA

..."e nem era filho de meus pais e sim um impostor diabolicamente sutil, aguardando o menor engano da parte deles para agir - de preferência, mas não necessariamente, sem violência - e revelar minha verdadeira identidade. A fim de evitar um desgosto insuportável para minha mãe postiça, planejava empregá-la em meu esconderijo, dando-lhe uma função ainda indefinida, mas apropriadamente majestática. Em 1928, porém, o mais importante era tomar cuidado. Participar da farsa. Escovar os dentes. Pentear os cabelos. E, custasse o que custasse, conter minha horripilante gargalhada.Na verdade, eu não era o único descendente legítimo do Gargalhada ainda vivo. Havia vinte e cinco Comanches no clube, ou seja, vinte e cinco descendentes legítimos do Gargalhada, todos incógnitos, circulando ameaçadoramente pela cidade, avaliando cada ascensorista como um inimigo em potencial, murmurando fluentes ordens aos ouvidos de cocker spaniels, fazendo mira com o dedo indicador, na testa dos professores de aritmética. E esperando sempre, esperando por uma boa oportunidade para inspirar terror e admiração nos corações medíocres dos simples mortais que nos rodeavam."