VAMOS BRINCAR DE QUÊ?
Husky

Eram longas, bem longas. As tardes eram infindáveis. Durante o horário de verão arrastavam-se duplamente como se fosse um prêmio por termos tirado boas notas no ano letivo.

Quando a noite chegava, estávamos exaustos e deitávamos cedo com a certeza de que teríamos um dia longo, ou melhor, uma tarde longa, repleta de travessuras.

Assim eram nossas tardes. Nossas? Sim, eu, meu irmão e o vizinho nos divertíamos à beça. Éramos inseparáveis. Até pegamos catapora juntos.

Idéias mirabolantes era o que não faltavam. Meu vizinho – três anos mais velho do que nós – liderava as brincadeiras. Eu e meu irmão seguíamos piamente ao que “o mestre” mandava. Brincávamos de mamãe-da-rua, mocinho e bandido, esconde-esconde, pega-pega, amarelinha, olimpíadas, escolinha e de ioiô. Empinávamos pipa também. A minha era cor-de-rosa, é claro, e eu fazia uma rabiola como ninguém. E tinha ainda as bolinhas-de-gude que eram as mais variadas possíveis.

Ao lado da casa do meu avô tínhamos uma hortinha. Fazíamos salada de tomate e espinafre com molho para os nossos piqueniques. Se minha mãe fizesse o espinafre, ninguém comia. O gostoso mesmo era o nosso, cheio de mostarda, molho de tomate, queijo ralado, catchup, orégano e cebola. Ficava uma delícia. Era uma pena que o espinafre diminuía tanto de tamanho quando era cozido...

Quando cansávamos de usar a força física, partíamos para o intelecto com os jogos de baralho e de detetive. Sempre descobríamos uma brincadeira nova.

Visto que morávamos em um loteamento novo, nos perdíamos nos terrenos baldios e em algumas casas demolidas. Minha mãe era a única que não ficava feliz quando regressávamos. Não queria nem saber das nossas descobertas e cada um ia para um banheiro remover a camada de terra que começava no dedão do pé e ia até as orelhas.

Nesse mix de brincadeiras, as tardes passavam em passos bem miudinhos. No entanto, cada ano que passava, o tempo acelerava, acelerava e acelerava. Descobri que as responsabilidades tomaram muito mais o meu tempo do que as brincadeiras. Descobri que tenho que equilibrar o adulto e a criança que mora em mim. Meu passado e meu futuro fundem-se no meu presente. E descobri que a felicidade está nas coisas simples, singelas, inocentes da vida.

 

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