FILHOS HERÓIS
Alberto Carmo

 
 

Louvo nossos jovens filhos. Não apenas pelo óbvio de terem sido o rito de nossa passagem para o entendimento da felicidade, mas pelo que são por si mesmos. Louvo esses jovens corajosos, trazidos a este mundo por nós que tanto sonhamos e pouco fizemos. Louvo seus olhos puros, redentores de todos os desvarios esculpidos em nossa juventude, e que, aos poucos, fomos deixando esfarelar pelos apelos da modernidade enganosa.

Louvo esses príncipes e princesas que erguem novos castelos de beleza fecunda e espírito incansável. Louvo-lhes a paciência com que aturam as falácias que lhes mostram nossas obras, nosso legado de fracos idealistas que sucumbimos ao caldo dos concretos que devastaram qualquer vestígio de formosura.

Admiro-lhes a destreza de andar entre labirintos de falsas alegrias, vasculhando entre os destroços que deixamos as folhas tenras e os perfumes evaporados que nossos sentidos não mais reconhecem. Invejo-lhes a ternura com que traçam novos caminhos, onde misturam aço, plásticos e óleo sujo com terras novas, bálsamos refrescantes, sons e pinturas de fibras óticas. E me pego em emoções ao percebê-los sabedores dos tempos que nos vieram apresentar.

Canto mil esperanças ao ver suas mãos firmes e delicadas, ainda que inseguras por nossa descrença na raça vil e envelhecida que deixamos herdar os continentes; vejo essas mãos carinhosas apagando de nossas vidraças, embaçadas pela falta de virtudes, o limbo da acomodação e do caráter franzino, mostrando-nos, na transparência de seus pensamentos mansos, o amanhecer maravilhoso que nossa teimosia vem adiando indefinidamente na escuridão em que nossa preguiça nos acorrentou.

Curvo-me diante de sua força criativa - que pouco lhes demos de infância, tão rápido os atiramos nas mazelas da maturidade ao jogá-los nas garras da desonestidade e da vaidade, das facilidades e do egoísmo. E, ainda assim, seguem como jovens adultos, sorrindo-nos novas certezas, trazendo em seus corações sensíveis e laboriosos a marca inconfundível da evolução, como a provar que, sob a pele endurecida que vestimos, ainda sobrevive a inocência.

 
 

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