ELE
FALAVA, FALAVA...
Adriana Vieira Bastos
E ela simplesmente o olhava, tentando entender o vazio que esta fala causava dentro de si.
O que estava fazendo ali?, perguntava-se calada. Mas ele, empolgado com a própria fala, nem percebia o olhar distante dela, e continuava a falar....
Com ares de ostentação, enumerava suas conquistas, suas mudanças, seus novos amigos, investimentos. E, para ela, uma coisa era certa, ele precisava falar...
E conforme ele falava, sentia-se tola por ter pensado que a sua época de inocência havia deixado no passado!. No passado que havia desfrutado ao seu lado.
Como sentia-se ingênua ao pensar que caminhara em direção àquele encontro disposta a aceitá-lo de volta em sua sua vida. Disposta a resgatar o que não mais existia entre eles. Companheirismo, sonhos, ideais...
Com esta compreensão, respirou fundo e simplesmente deixou-o falar até vê-lo saciado com sua própria fala.
Ao vê-lo satisfeito, levantou-se do sofá, tomou o resto de água que havia em seu copo, deu-lhe um sorriso apagado, balbuciou uma desculpa qualquer e caminhou em direção à porta. Sabia não ter mais porque ficar, pois ele não mais fazia parte de sua vida. Havia se transformado num caso do passado.
Não iria desprezar a importância
que ele tivera na sua vida. Nem iria lamentar o fato de que toda história
tem seu começo, meio e fim. Nem ao menos tentaria entender o porque
deste fim, pois assim é a vida... E como diria Clarice Lispector,
viver ultrapassa todo entendimento...
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