O MISTÉRIO NO PORÃO
Vera Vilela
06/05/2000 - 05:30 h - residência do
senhor Otávio de Almeida:
Pontualmente ás 5:30h o suspeito acordou, usou o banheiro e dirigiu-se
para a cozinha, Pegou a velha bandeja de madeira e colocou ali duas canecas
de louça, o café, o leite, uma cestinha de vime com rosquinhas
de pinga e frutas. Colocou um vasinho com algumas margaridas colhidas em seu
jardim. Levou ainda o jornal do dia. Desceu a escada externa que leva ao porão
da casa, em passos calmos e tranqüilos. Voltou, como de costume, duas horas
após e saiu para o trabalho.
Percebe-se a felicidade em seu rosto e tranqüilidade na alma que ele transmite
após estas estranhas visitas ao porão, que fez com que várias
pessoas nos tenham pedido uma investigação.
07/05/2000 - 08:30 h:
Vou entrar e investigar o porão. Dizem que este estranho hábito
do senhor Otávio começou no dia seguinte à morte de sua
esposa, há dois anos.
Chego até a escada que leva ao porão. São poucos os degraus
até a verdade escondida. A porta do porão é trancada apenas
por uma trinca de madeira. Abro a porta e entro, meus olhos se acostumam ao
escuro após alguns minutos. O porão tem um ar gélido e
sombrio, chão de terra batida. Consigo ver apenas uma mesa pequena e
duas cadeiras. Vejo ao lado da mesa uma porta trancada a cadeado.
Ouço então um barulho sobre o assoalho e corro para fora com medo
de ser pego em meu ilícito ato de invasão.
Chego ao carro em tempo de ver o velho cachorro saindo da casa.
Resolvo voltar amanhã.
08/05/200 - 05:30 h:
Cheguei no horário de costume e aguardei pacientemente que o suspeito
descesse as escadas do porão e fui até lá.
Para minha surpresa a porta estava aberta, lá dentro pude ver o vulto
do senhor Otávio e de uma outra pessoa sentada na cadeira ao lado. Ele
lia as notícias do dia, parava algumas vezes para sorrir, eu ouvia então,
o som de um beijo, que ele dava no vulto. Percebi a velha porta destrancada
e aberta.
Resolvi então entrar e acabar logo com o sofrimento daquela criatura,
presa há tanto tempo no velho porão.
Empurrei a porta com força e adentrei ao recinto, o suspeito deu um grito
e vi quando o vulto ao seu lado caiu ao chão. Me aproximei e vi a patética
figura inerte no chão, não acreditava no que via. O senhor Otávio
então, me mandou sair de sua propriedade e de sua intimidade. Saí
rápido mas, antes resgatei a prisioneira e trouxe-a como prova. Solicito
que a prova seja liberada e entregue ao seu proprietário após
o encerramento do caso.
Anexos ao relatório - Um manequim de aparência feminina com peruca loira e roupa composta de: calcinha e sutiã de renda vermelha, cinta-liga, meia sete oitavos da mesma cor e sapatos de saltos altos.
Anésio da Silva - investigador de
polícia
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