NOTURNO
Márcia Ribeiro

 

Não achando as razões que me viram de ponta cabeça
Volto pr’um imundo cercado deserto
E somente nas vezes que enlouqueço
Reconheço um testemunho danoso, talvez o certo

Quando, em silenciosos silvos, caço a Lua tombada
Cheia e senhora de si, tomando do cálice a própria vida
Vejo, entre sombras conhecidas e de cores quentes,
O gigante transformando-se, ileso, em minha sorte e lida

A noite ainda escorre pelos meus dedos quentes
E num breve silêncio nasce, rompe, a umidade
Quando cega estou de olhares soturnos

Retirando das asas o espinho que grita, soluça e treme
Voltando da história de dentes cerrados, que gemem
Calando as lágrimas dos chamados noturnos


 

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