DESCANSA,
PASSADO.
Ana
Terra
O passado dorme na minha cama.
Nu. Exausto da vida. Chegou meio perdido. Fui buscá-lo numa esquina qualquer, com os braços e coração abertos.
Transformei-o em presente. E no presente vivemos momentos. Que nada lembraram o passado. Senti que os anos, muitos, passaram, mas não conseguiram matar o amor distante. Ele ainda está presente em mim e no passado.
Senti no seu olhar, na sua pele, no seu cheiro. Pouco nos falamos. Consegui colocar o tempo em seu devido lugar.
Sem decepções. Mesmo triste e cansado conservou a ternura da adolescência, apesar dos olhos estarem opacos.
Fiquei triste. Procurei pelo brilho perdido. Nada falei. Apenas acariciei seu corpo com todo o carinho que me aflorou.
Ele percebeu que ainda está vivo em mim. Sentiu espanto e alegria. Adormecemos abraçados. Murmurou algo que não entendi. Pedi para que repetisse e ouvi claramente: como é bom ser querido.
Morreremos juntos: o passado, o presente, o futuro e a amor. Logo mais ele irá embora. Não sei quando o verei novamente. Tomara que ele tenha colocado na sua bagagem toda a ternura que eu lhe dei. Ela não pesa quase nada e aquece a alma.
Durma em paz, meu passado/presente. Daqui a pouco me despedirei de você com um forte abraço. Já te dei um pedaço meu. Levo-o consigo, se achar necessário.
Sonhe tranqüilo.
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