CAJUZINHO, OU "COISAS DE NAMORO III"
Ubirajara Varela

Começou com cajuzinho. Aliás, ela tinha obsessão pelo doce. Desde a sua infância, quando vovó lhe preparava quitutes saborosos, aquele de que ela mais gostava era o bendito do cajuzinho. E continuou amando-o, já crescida, como se fosse a ambrosia na Terra.

Naquele dia, cismou de fazer a sobremesa justo depois do almoço; hora mais propícia para comê-la, claro. Hora também que ele havia reservado para os dois namorarem um pouco, para que pudessem ter um momento sossegado, só para eles. Mas não, ela foi fazer o tal do cajuzinho.

Como bom companheiro que era, não cogitou em ajudá-la. Vendo-a naquela labuta gastronômica, as mãos macias, umedecidas pela doce massa, tocando-a com sensualidade, amassando-a, apertando-a, revolvendo-a, mexendo com gosto, ele não se conteve e arriscou fazer um carinho: beijinho no pescoço, cafuné na nuca, cheiro no cangote; mas não deu. Ela o empurrou com desdém.

-Tudo bem, então. Vou ler meu livro. - disse ele desgostoso como criança sem doce, saindo para o quarto.

Sentou-se na cama, afofou os travesseiros, acomodou-se confortável e partiu para a leitura. Passados quinze minutos, foi ela quem veio buscar carinho. As mesmas táticas: beijinho, cafuné, cheiro. E mais outras técnicas femininas, que só elas sabem usar tão bem.

-Certo. Você me espera engrenar no livro só pra vir aqui me pentelhar. É sempre assim: tudo do seu jeito e na hora que você bem quer, não é verdade?

-Até parece! Eu vim ficar com você, benzinho. - disse manhosa, enroscando-se no corpo dele como se fosse uma gatinha. - Nesse friozinho, ficar pertinho, coladinho... sabe? Hum, que delícia!

-Tá bom. Deita aqui do meu lado e espera só um pouquinho, pra eu poder terminar de ler mais um capítulo.

Nisso, ela vai colocando a mão dentro da camisa dele.

-SEM MÃO GELADA, POR FAVOR!!! Ah, não. Assim eu não consigo. Perdi todo o fio da meada. Vou ter que começar este trecho todo novamente.

-Que que é isso?! Não precisa dar esse escândalo todo. Sem grosseria, por favor!

-Desculpa. Pronto. Fechei o livro. Vamos ficar juntinhos, então. Pertinho e agarradinhos, bem grudados mesmo.

-Perái, me lembrei de uma coisa. - disse ela, já se levantando.

-O que foi?

-Ainda não comi os meus cajuzinhos. Nhami!


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