DOCE ABSTRAÇÃO
Márcia Ribeiro
Deito aqui, em bem traçadas linhas,
O sangue que jorra sem dor
(Calada, enfraquecida...)
E no silêncio de uma noite duvidosa
Ainda tenho, cravado às costas,
O mesmo punhal que segurei para não te ferir
Este, ainda, que lancei ao mar
A canção paira, perdida
No céu da boca, agonia
Deixastes palavras sem encanto
Escondestes as mãos de acalanto
Destes a dor de saber-te
Em mácula maldita
Em mancha que cobre a visão
Em imagem perversa da alegria
Singela moldura de um dia
Pancadas de morte certa,
Nos sentidos, ferida acarreta
E assombras um passado tão recente
(Que de longe, chega agora)
Num grito que não sai
E a vontade de correr
Numa dor que não cala
E se entrega em padecer
Tal qual trapos malfazejos
Os sorrisos permanecem
Justamente nessa hora
Quando a falta do teu
Escurece o meu
E partistes dizendo:
Chora!
Não chorei, sequei
E, caprichosa, pude esquecer
Que te amei
E quando me encontras
Feliz, indiferente
(Sabes que não há castigo
Para a filha inocente)
Somente assim cruzas os dedos
E soluças em vão
Pois de mim não tens a cura
De sua real obsessão.
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