NÃO - TEXTO PARA GRITAR COM TODA VOZ
Edison Veiga Junior

Rindo enquanto ouço meu jazz, caído ao canto da sala de estar, de estar sentado, estando caindo ou em pé pêndulo, ouso desejar uma nova nota musical para ornamentar meu boletim do primário ou coisa que o valha qualquer. Ou valei-me um santo que nomes não me menos lembro, macambúzio que ora ando por sim dizer e rezar. “Mãe, tem tinta pra tentar escrever e cravar algo diferente na língua?”

A moça que mora no out-door não se cansa de me olhar. Mesmo que eu já esteja de há muito cansado dela e daquele sorriso estático dela. Ou a massa que mira no alto dói não se coça sem me molhar. Cadê o sentido que há muito já fugiu?

A moça eu ando louco de saudade mas esta que falo agora não mora no out-door e me namora e não me sai do pensamento e eu ouço jazz ela jaz em mim eu caio na sala ela cai em mim eu desejo uma nota e ela me nota minha nota massa moça missa maçã. Mesmo assim. Inútil tentar transgredir as formas e as fôrmas, vou mesmo é montar um ouvido cheiro verde que venda alimentos leves vendando meus olhos e vendendo meus alhos e filhos e molhos e chaves em geral. Rosno que somos a quebra da regra e a trégua da régua mas é tudo mentira e o mundo está cheio de mentiras a lua está cheia de mentiras. (Isto também é mentira, claro!)

Rinocerontes e romanos acabaram de invadir este texto porque as idéias dele estavam ficando cansadas de idear o texto sozinhas. Agora um rinoceronte amarelo, de carapaça romana e sambando que nem um avestruz dá as ordens por aqui enquanto o exército obedece em latim. Mas onde foi parar meu cachorro? Roubaram meu cachorro ou ele só foi me levar pra passear mijar no poste e já volta me trazendo pra comer ração arroz feijão bife salada? Oba-oba o baticum já vai começar...

Basta uma sirene pra que o ladrão medroso se ponha a colar de volta as vitrinas e haja superbonder pra dar conta de tanto estilhaço, caco, cacareco este lhaço telhado e aquele laço no lado lassidão da vida no antro molhado da perdição. Assumo meu lado direito desde que ninguém suma com meu viés torto semimorto mas ainda respirando.

Sapos que começam a coaxar mostram que os rinocerontes e romanos e garrafas de champanhas e cactos não estão dando conta de manter elevado o grau de entropia deste texto. Obsessão minha acabá-lo. Hei de fazê-lo. Leia bem porque tanto esmero tenho que minha obsessão maior ainda está escondida, entreletras entrelinhas entrepalavras breves e bravas. Em cada garfo há suas pontas e este emaranhado de letras no qual me perco certamente há de esconder uma mensagem uma imagem uma imaginação ou uma declaração de amor ou o mapa do tesouro ou tudo isso ou nada. Mas é você quem escolhe. Rei.

Ergo meus sonhos junto com as plantas que o cinemanasemana ajudou a matar porque esqueci de tratar delas no meio do filme insulfilme de isopor preto. Vá tomar na facilidade, digo, na felicidade, no umbigo no artigo indefinido no amigo mais fedido. Mulher é melhor. Unidunitê.

Ergo meus sonhos junto com as plantas que o cinemanasemana ajudou a matar porque quero causar uma sensação dèjavu no leitor que ainda estiver lendo lento isto para que ele volte no parágrafo anterior e então veja que não, ele não está lendo lento a mesma coisa duas vezes e sim sou eu que estou viajando aqui nas letrinhas mesmo. Ouça-me: tem um rinoceronte romano apontando uma arma para mim e me obrigando a escrever isto, não tenho culpa, não tenho culpa, não tenho culpa, estou aproveitando que ele não está olhando agora para escrever isto, estou aproveitando que ele foi estuprar a moça do out-door para escrever isto, por favor, me ajude, me ajude a escapar deste texto a fugir da página a concluir a obcecada vida da obsessão diuturna que eu carrego e o rinoceronte romano não conlui.

Rinoceronte algum, seja mulato ou enlatado, seja romano como este ou seja lunático como eu, rinoceronte algum tem a mesma obsessão que eu, portanto minha obsessão tem que ficar circunscrita às entrelinhas entrepalavras entreletras ou visse vice-versa verso porque nada tem ordem. Imbecil, a obsessão do rinoceronte que está estuprando a moça do out-door é apenas que eu escreva pra ele. Então ele vai voltar daqui a pouco aqui e apontar novamente a arma na minha cabeça para que eu continue escrevendo porque ele quer conquistar a moça do out-door com minha escrita ele pensa que ela gosta do que eu escrevo porque ela vive olhando pra mim ele pensa que eu sei escrever direito ele pensa que pensa mas no fundo não pensa nada. Cabeça boba a do rinoceronte de arma na mão, não percebe que na arma tem rama tem mara tem mar e sobra a tem rã sem cobrinha e sobra ma tem até ram pra computador mas não tem amor, por pouco mas não tem amor, não tem amor, não tem amor. Ainda bem que não tem amor na arma nem arma no amor. Fizesse ter e eu estaria perdido, amor que sou que estou que sem limite que imite mito.

Ondas? Já começou o maremoto? Escondam-se quem puder!!! Será o fim!? Eu ainda tenho um amor inteiro pra viver e o rinoceronte estúpido acaba de voltar e mesmo com a água batendo em seus joelhos quer me apontar a arma na cabeça. Dedo no gatilho: dota, data, dita, duto e ele me dizendo: escreve escreve escreve, e eu retorquindo: moça alguma gosta de massa de tomate de cabeça de escritor ainda que estertor seja palavra bonita e estrume tenha som. Mas cadê que o rinoceronte me ouve?

Um dia o sapo coaxou uma história e todo mundo achou uma linda memória a lenda rida por todo mundo. Ordem, ordem, ordem! Dita o rinoceronte enquanto penteia a juba. Ruge um pouco e então alça vôo porque diz que vai chamar reforços. Um abraço que eu vou ficar aqui esperando, há-há-há-há-há-há-há, sete vezes há pra você elefante, digo, rinoceronte militar...

Sumo logo, sumo de casca de laranja, viro a casaca e vou atrás do meu terapauta que sempre tem uma peuta nova pra eu cobrir e estampar um jornal de mentira ontem: cada louco com a sua maninha, dizia a minha voz. Bate-bate-bate e é meu coração provando que, apesar de toda essa confusão, permaneço vivo habitante deste cenário algo esdrúxulo que é o caminho pra morte, cuja inauguração se deu no dia de meu parto. Adeus, mortos! Ouço a voz de vocês ao fundo mas sei que já eram todos.

Rranhando o céu da boca acho bonito começar um parágrafo com dois erros e dois erres. Upa upa, rinoceronte tonto cambaleante do lado de fora a correr montado na gramática contra mim. Traz pés, isto, trapezista de araque, já perdeu-perdeu-perdeu e cadê sua força, sansão careca?

Unte bem. Fôrma retangular. Margarina vegetal sem sal. Unte bem, unte bem, unte bem. Ou a receita de assar rinoceronte. Há?

Nade ou nada, tudo ou tude, tudebom pra você também, téamanhã, licença, porfavor, sem gelo, boanoite, prassempre. A moça do out-door bate na minha porta e quer entrar porque está com medo do rinoceronte comendo. Mas eu sei que na verdade tudo o que ela quer é continuar participando do texto, está reclamando porque não tem contexto pra ela morar, tem medo de morrer na solidão, só que eu sei que todos nós temos medo de morrer na solidão, na velhitude decrépita ensimesmada que nos aguarda na hora da morte amém. Amém.

Tântrico e tétrico, ouço jazz desmaiado na sala porque quero acreditar que tudo não passou de um sonho e me belisco e vejo que não fora sonho tudo é verdade e estou aqui a moça batendo na porta eu desmaiado no chão ouvindo jazz querendo jazer aqui jaz fulano de tal rip and hippies making love and yuppies playing tetris porque tântrico e tétrico minha sala de estar sentado. Onomatopéias persistem nos ouvidos pagãos pogonóforos ou nos pogrons brasileiros, versão álabo ou herbert richers. Herbert.

Na sala a sela ou a cela, a ceia última mas não ótima nem átoma, num átimo. Os rinocerontes batendo na porta e que há entre a porta e os rinocerontes nervosos? Sim, a moça do out-door, agora verdadeira massa de tomate e eu culpado porque não a deixei entrar mas sou egoísta mesmo não agüentaria aquela moça do out-door deitada na minha sala, dizem que ela é burra e só sabe vender o produto do out-door e eu nem me interesso por batom que é o produto do out-door porque eu não uso batom. Mulher? Uma só.

“Mãe tem tinta pra tentar atento tanto ao meu talento quanto ao seu talante por enquanto?” Oh meu filhinho, tem mas acabou, ficou pra ontem. Caramba!

Amanhã ontem e hoje não deviam nunca existir.

Muito mais essa saudade. Ir pra onde com ela no meu encalço?

Roer unhas.

Inspirar poemas.

Rrubarde as regras e detonar toda a palavra porque nada melhor pra fazer aparecer no meu mapa-múndi minha pipa de vento em popa cadê o jazz cadê a moça cadê os rinocerontes romanos e o sapo sapo sapo? Assim já eram a coesão e a coerência e ninguém vai acreditar que isto é um texto – isto é um texto? Mesmo?

Sobre o sapo, a história que ele contou ridiculariza ri de cu lar e zás-trás o rinoceronte: ele é surdo e de urso absurdo se fantasia só pra poder hibernar quando chove e falta couve porque onde houve e se ouve ele tem medo de chuva. Ah!

Moeda nenhuma mora na moela de quem não tem mãos para roubar moedas nem modelos inéditos do laboratório de ciências. Acho que todos os elefantes e rinocerontes são burros e antas, antes:

- Ção cora e corais são!

Argumente, argumente, que enquanto isso eu vou pedir pro meu cachorro me trazer de volta porque já cansei de passear passear passear mijar em poste passear passear passear puxado pela cordinha dele. Rumino a filosofia agora. G é o nome do ponto, pinto prantos na tela que ora se me revela vela acesa apaga ascende paga.

Arte terra e tear tentando crescer, tecendo rinocerontes pra me matar matar a moça do out-door fazer massa de tomate de pessoas inocentes. Meio hobby sanguinolento de serial killer ou filete de sangue escorrendo da gilete. Um urro, só.

Halali, halali e sei que há um hipopótamo também querendo entrar na festa, vem de carona num halibute, mergulhado e tudo, estudo muito pra entender mas em tender nada me especializo. Notas pra que as quero sãs, asquerosas! Em cima da mesa a sobremesa em cima de mim a sua beleza em cima de mim em cima de mim, demiurgos errantes...

Natureza é sábia. Ainda não me trouxe o cachorro de volta pra casa, ainda estou atado à coleira suja, ainda estou vagando numa sarjeta qualquer de não sei onde não sei lugar. Irritado, por vezes. Repentinamente eu quero voltar para mim, porque estou aqui querendo escrever mais, é difícil escrever quando não se está, é difícil mesmo. Estou pensando se não era melhor ter um revólver de rinoceronte apontando para mim e se a pressão não era melhor para escrever e se não é barato o aluguel para morar dentro de uma panela-de-pressão ou a depressão dói demais. Tudo trote.

Onde está meu pensamento que agora pensa em abrir a porta, soprar, só pra ver o vento correr da manada de rinocerontes, só pra ver a massa de tomate da cabeça da moça morta, só pra ter de novo o rinoceronte romano latindo com um revólver assassino apontando para meus ouvidos.

Ã.

Nihil. Adão costurou a própria sina mas não tinha cachorro portanto não saía para passear. Deus não criou o jazz portanto não tem culpa de nada. Animais como rinocerontes gostam de tomar banho por causa do calor e aquela sensação de sujeira a colar o corpo. Natureza tem mania de grandeza. Moças de out-door não têm recheio, ou seja, não são boas de se estuprar. Ou tudo está errado ou foi o mundo que entortou de vez.

Cá, um espanto. Espirro. Só esparadrapo, espaço, espelho. Sapo, meu caro, esqueci do sapo: o maior e mais sincero contador de mentiras que me tiram do mundo que jamais houve! Amanhã é sábado e não vou trabalhar. Mas só. Ignorante é a sua mãe, engraçadinho! Ria, vai, ria, que eu vou ficar aqui chorando por cada dente dentre seus lábios. Ir ainda é meu direito? Resta a alma, a calma e a palavra. Ah, sim, a pilantra pula palavra também.

Mote: meter e matar a gramática e a matemática. Esculhambar a sintaxe. Suar a camisa mas destruir o sentido. Assim faz sentido? Nããããããão!

Ahn. Iupi! Rrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!

Amém. Mas volte sempre: agradecemos a preferência.

 

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