UMA AVENTURA
NO RIO APORÉ
Sonia Lencione
Era dezembro e eu passava uns dias no Mato
Grosso do Sul.
Andava tão estressada naqueles dias e levaram-me para lá para
que eu pudesse descansar, arejar a cabeça.
Realmente foram uns dias singulares. Jamais me esquecerei tudo que vivi naquele
povoado.
Numa manhã eu fui sozinha pescar num rio próximo ao local que
estávamos hospedados.
Bem, eu estava na casa de amigos em São João do Aporé,
o local fica situado bem próximo ao estado de Goiás. Atravessamos
o rio (vou guardar para sempre na memória aquela ponte de madeira que
atravessei tantas vezes naqueles dias que lá estive) e já estamos
em Lagoa Santa/Go.
Peguei apenas duas varinhas, um viveiro para colocar os peixes, as iscas, uma
garrafa de água, umas frutas, um boné (caso o sol ficasse muito
quente). Não me esqueci de levar uma caixinha contendo linha, anzol,
chumbada e um canivete que o Mauro me emprestou.
Chegando à beira do rio eu vi um tablado vazio (caso não saibam,
um tablado é uma plataforma onde os pescadores costumam se acomodar para
pescar). Eu me instalei lá e fiquei a observar tudo que me rodeava. A
paz do lugar me encantava.
Vi araras e tucanos, também um sabiá ficou cantando sobre uma
árvore bem próxima ao local que eu estava. Acompanhei aquela sinfonia
do começo ao fim antes de me dedicar a colocar a isca no anzol. Parece
que a ave viera especialmente para me saudar. Depois que ela se foi eu tratei
de começar realmente a minha pescaria.
Peguei alguns peixes e me diverti muito como sempre. Eu simplesmente devolvia
ao rio os pequenos para que crescessem mais e guardava no viveiro os maiores.
Foram poucos naquele dia, só uns três.
Eu podia notar que formavam umas nuvens bem escuras a noroeste, mas não
me importei muito. Fazia muito calor e não me incomodava o fato de me
molhar.
Eu vi o céu escurecer. A água do rio se modificar.
Continue sentada no tabladinho, mas os peixes já não vinham comer
as iscas.
O rio aumentava de volume e eu continuava ali.
Então a chuva caiu. Forte, poderosa mesmo.
Eu fiquei com o boné na cabeça para me proteger um pouco, mas
de quase nada me servia.
A chuva me lavava a alma. O calor era intenso e a água estava quase morna.
Vi descerem pelo canal do rio plantas das mais variadas.
Eu sabia que aquele rio acolhia as águas de uma vazante. Plantas aquáticas
de uma lagoa maravilhosa que fica alguns quilômetros acima desciam dando
cambalhotas.
Fiquei a olhar os troncos que desciam aos montes.
A água já quase alcançava a altura do tablado e mesmo assim
eu continuei ali.
Já não mantinha a linha de pesca nágua, porque era
simplesmente impossível se pegar alguma coisa com um volume tão
grande de água e toda aquela agitação.
A água, que tinha uma cor clara quando eu lá me sentei, tornou-se
puro barro.
Fiquei sentindo a chuva sobre mim e vendo a transformação do rio.
Era uma torrente.
Fiquei no barranco contente observando as mudanças que ocorrem na natureza.
Uma hora depois o rio continuava volumoso e galhos ainda desciam. Eu já
estava com a roupa seca porque o sol havia voltado com força total.
Ajuntei minhas tralhas e peguei o caminho de volta para casa.
Ao chegar lá me perguntaram se eu não havia me assustado.
Sinceramente eu respondi que não. Que tudo faz parte. Que foi um espetáculo
e tanto.
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