TÔ RENTE
Lula Moura
Inda paira em mim
uma dor latente,
pedaços do passado,
em vazio rancor.
Luto no externo em luto,
prêto, preso na corrente.
Ouço o que não mais escuto,
"flor", no ouvido da mente.
Em curso, a vida me leva,
e eu desço na torrente.
Foto, síntese que era,
hoje é ausência de lactose.
Amargo nesta fotossíntese,
o remédio que passou da dose.
Sou feliz mas viro antítese,
no sentimento da indiferença,
se sou eu, ela ou o velocípede,
do tempo da desavença.
Desejava a mudança da cor,
mas é duro deparar de repente,
com a sensação do nada ter sido,
na explicação de um gesto indiferente.
E na fusão dessa água salgada,
a confusão inda se faz presente.
Imposta, embora desejada,
metamorfóse dói a minha mente.
*
Testo em textos,
meus instintos,
num cansaço diferente.
Vejo minha vida e nego,
bato no martelo
o último prego
da caixa de amor,
um dia existente,
que não mais existe,
que não mais entendo,
que às vezes insiste,
que eu não compreendo,
e que fere o outro,
ainda que não queira.
Tonto, eu ainda tento.
Acho que não é besteira.
Hoje eu já me desperto,
num fôlego existente.
Já tive mais longe:
tô perto,
tô rente.
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