ÁGUA
DE TI
Jorge Gomes da Silva
Percorri em
silêncio o nosso caminho. Só pensei em ti. Em nós também,
mas agridem-me as lembranças de um tempo que há muito deixei de
viver. Em nós, pensei menos um bocadinho. Lembrei-me de como as árvores
no horizonte se transformavam por magia em guerreiros gigantes, guardiões
da passagem mais nobre para os montes distantes, mesmo na fronteira do paraíso,
quando ainda brincávamos ali. E afinal o paraíso eras tu, bem
o sei agora.
Escapa-se das minhas mãos a água do riacho, como por entre os
dedos fugiu a última madeixa do teu lindo cabelo negro que tive a sorte
de acariciar. O cabelo longo que molhavas com alegria, junto à agua que
corria. E eu, encostado a uma rocha, olhava para ti e ficava feliz.
Na boca amarga-me amor o acre da saudade, mastigada com solidão. A água
fresca do riacho não me adoça o coração azedo e
não mata a sede, a que mais me atormenta, muita sede de ti.
Mas bebo muita, bebo toda quanto posso, que quando o teu sorriso se fez beijo,
chapinhávamos os dois, a água já aqui corria. Se for a
mesma, aquela mesma que te tocava, prometo todos os dias aqui virei, em silêncio
pelo caminho, dar à alma a tua boca e à minha boca uma ilusão.
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.