ESSAS COISAS...
Bruno Freitas

Sempre que vejo dois adolescentes abraçados e com os corpos entrelaçados, sentados, perna sobre perna, num banco de uma praça qualquer, me lembro da minha época, onde fui capaz disso e muito mais. Não que sinta saudades dos afetos daqueles tempos, e que isso fique bem claro, mas que aquelas sensações de cócegas gostosas dos batimentos cardíacos e calafrios de incertezas fazem inveja a qualquer adulto. Também quero deixar claro que estes sentimentos provocam certo saudosismo, mas nada chega a ponto de fazer-me almejar uma inversão de posições.

Saudades, tenho sim, das sensações relacionadas às descobertas adquiridas. Quando se é jovem, não nos importamos com a conta do telefone, nem mesmo de problemas com a operadora cobrando o pagamento de contas atrasadas e pressionando seus pagamentos, sob a pena da inclusão de seu santo nome no SPC ou Serasa, além é claro, do inevitável corte dos serviços bem como as multas aplicadas. A vida é bem mais dura quando se toma conhecimento das coisas. Que coisas? Essas coisas indispensáveis como telefone, celular, internet, água, luz, gás para casa e para o carro, multa disso, multa daquilo, taxa de aquilo outro e tantas outras coisas que só mesmo vocês pra lembrarem. Coisas essas, as quais podemos viver muito bem sem, mas que fomos condicionados uma vida inteira a tê-las que nos acostumamos.

Quando se é jovem, nossa única e exclusiva preocupação são com os estudos, e mesmo assim ainda temos tempo para ficarmos sentados num banco de praça abraçados com o mais recente afeto, porque esses afetos têm um período demasiado curto, mas são eternos enquanto duram. Quando jovens, temos a opção de não preocuparmos com nada disso. Sabe? Essas coisas que tanto afligem os adultos, e que não entendemos porque os afligem. Essas coisas de ter ou não ter dinheiro, pois quando se é jovem, a falta do dinheiro não é problema, e tudo se resolve de uma forma ou de outra.

Os jovens têm uma natureza alheia e alienada, mas é claro que alguns jovens, por se encontrarem em situações trágicas, vêm-se obrigados a ingressar na vida adulta bem mais cedo, mas estes são uma minoria na classe média, como é o caso abordado aqui. Mas mesmo assim, estes jovens ainda arrumam tempo para sentarem-se nos bancos das praças e namorarem sem preocupação. Podemos concluir que se os jovens que se encontram em situações trágicas conseguem tempo para tais afazeres, não existe motivo para que o adultos também não consigam.

Porque não conseguimos? Por que nos perdemos na busca do inatingível, na compra do carro novo, na banda larga de internet, nos celulares digitais com tecnologia CDMA, que não enxergamos que fomos felizes e não sabíamos. Nos perdemos numa sociedade consumista, onde não encaixamos perfeitamente, por não temos dinheiro suficiente para comprar o último lançamento do celular digital com câmera fotográfica do comercial com o Rodrigo Santoro. Mas será que a felicidade se resume nestas coisas? Pode ser... Mas com certeza o que buscamos não é mais o mesmo que buscávamos na juventude.

Como se eu fosse tão velho assim!

Depois desta autocrítica, percebi que as próprias razões que me fizeram iniciar esta crônica, não são mais as mesmas. Portanto, aí esta mais uma prova da mudança radical de objetivos, pela qual, nós seres humanos passamos. Ano que vem, já poderemos estar almejando outras coisas. Ce sabe? Essas coisas... Mas a crônica que iniciei não é mais a mesma. Por isso, pretendo concluir e retirar-me, antes que o pior aconteça e eu mude completamente de tema outra vez. Posso até estar correndo o risco de ter de explicar-me mais tarde, mas até lá posso até concordar com o reclamente.

O mais certo é que a torrente de paixões dos jovens pode ser comparada a nossa atual torrente compulsiva do comprar, comprar e comprar.

Será???

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