COMO
DIZER? NÃO SEI
Francisco Pascoal Pinto de Magalhães
Como já dizia aquele poeta mineiro eternizado em bronze num banco à beira-mar, cuja simplicidade e versos incluem preciosas confissões, lutar com palavras é a luta mais vã. Há muito, de cabeça, que guardo esta passagem do poema junto com outros fragmentos de outros poemas por ele escritos: No meio do caminho tinha uma pedra ... Quando nasci, um anjo torto... E agora, José? ... Alguns anos vivi em Itabira, principalmente nasci em Itabira...
É estranho perceber como, toda vez que me bate à porta a inspiração e os meus dedos começam a coçar, o meu subconsciente associa imediatamente a passagem do poema com a minha necessidade instantanea de escrever me atirando de paraquedas no meio dessa luta vã. Aos poucos, de resma em resma, rabisco ou rascunho, rasgo ou guardo a sete chaves folhas dispersas e avulsas. Por assim dizer, esgrimo a pena até capitular para no fim render-me incondicionalmente, esgotado de sangue e tinta e verve.
O que tenho a dizer? O que devo ou o que temo? Ou o que não pode mais se calar? Sinto muito. Nem sei bem como dizer. É algo assim como nos primeiros namoricos de adolescência: a timidez embaçando os olhos, enrubescendo a face e travando no peito o que o coração manda que se diga e faça.; é a voz que não se solta, é a frase que não se articula, pois a luta com a palavra falada, creiam, é mais inútil ainda.
Com o tempo e a experiência, soltamos
a lingua e a usamos para outros fins: beijos, esgares, calúnias, confissões
sinceras, sorrisos discretos e gargalhadas escandalosas. É quando finalmente
tornamos-nos estrategistas habilidosos e a luta fica fácil de se lutar;
mas sem aquele sabor diferente da vitória que premia o esforço
e a peleja de se fazer intelegível.
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