PRASANTA DO GUARUJÁ.
Eduardo Prearo
Esqueço completamente as razões do presente-passado e cai chuva de arrependimentos. Tem tantas formas de dizer o que sinto, mas a mais correta seria a aceita pelos psiquiatras. Entro num navio ou não? Parece tão simples entrar num navio qualquer. Encontrei Prasanta no Guarujá, ela está chique, vive num condomínio chique, herdou um apartamento de não sei quem. Largou Bentinho. Mas foi por acaso, nada é por acaso eu sei, mas foi por acaso que a encontrei ali bem próximo ao cais. Ela me disse que se se entra num navio eles te jogam no mar. Mas não sei nadar como acho que deveria saber. Prisioneiro dos sussurros da populaça, o rebuliço está em mim, não há paz interior. Ponho Kaoma; Prasanta adora Chorando se foi, ouve o dia todo; quando não, andarilha...
Lânguido não só neste dia, languidez crônica, não é sua natureza. Onde vamos, Prá? Dançar, namorar, tentar entrar num navio, esperar o trem passar e zipa? Mal a conheço. Um elefante barrindo hoje cedo mas só para mim. Um sinal, não sei se bom ou mau. Voltei ao cais, não me encaixo em nada, em nenhum esteriótipo, isso é estranho. Tímido ou repugnante? Não sei, não sei, não sei...O que estou fazendo aqui? A energia é furacão de marte; suas unhas vermelhas, xifóides, arranham-me as costas.
Sei talvez como dizer; pelo menos sabia, mas esqueci. A juventude se foi, quero-a de volta; mas pensando bem, não, não a quero de volta, nunca fui lindo, não estou decrépito. Um elefante barrindo hoje cedo e o que pipila ali na beira é imaginação. Essa tal de Prasanta foi sem-teto, ela me disse. Nome até que bonito.
--- Bentinho era um anjo!
--- Tinha asas?
--- Não!
--- A gente se conheceu a pouco tempo, a senhora estava ali, andarilhando no...
--- Hoje já não sou aquela Maria das Dores. Arrumar um amigo como ocê é coisa boa! Não me chame de senhora que eu choro, hein! Senhora é a Rainha dos Apóstolos.
--- Obrigado Prasanta, por ter me auxiliado agora. Mas mora sozinha neste apartamento?
--- Herdei. Moro só sim.
--- Ai sabe, ai sabe. Parece que tudo o que faço dá errado.
--- É que você está na primeira, tenho certeza.
--- Primeira?
--- Deixa pra lá. Por que não vem morar comigo por uns tempos? Gostei de você. O que aconteceu para ficar por aí? Meu amigo, o que há?
--- Não sei Prasanta. Esqueci as
minhas próprias razões. Agora não sei como dizer...
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